Em janeiro deste ano a direção-geral da Polícia Civil anunciou a transferência de prédio da Central de Polícia de Maceió, no bairro do Prado o Farol. A mudança que teria por objetivo beneficiar o acesso da população da capital e regiões metropolitanas deveria ocorrer até o final de fevereiro, mas falta de estrutura nos prédios das novas sedes impediu o cumprimento do prazo.

Uma nova data para transferência está sendo discutida levando-se em conta reformas que estariam em andamento. A expectativa do delegado-geral Paulo Cerqueira é que em quinze dias tudo esteja concluído. Já a mudança de funcionamento, onde os delegados distritais não precisarão mais cobrir plantões na Central sendo substituídos por uma equipe fixa, passa a valer a partir desta sexta-feira (1º).

A nova Central deverá ocupar os prédios da Delegacia Geral de Repressão ao Narcotráfico (DRN), Casa de Custódia II e 4º Distrito Policial, na Avenida Fernandes Lima. A reportagem do CadaMinuto foi conferir a situação de uma das novas sedes e encontrou na DRN buracos nas paredes [tampados pelos próprios policiais com pedaços de madeira] e o teto desabando. Situação que evidencia a dimensão do problema de um prédio que foi inaugurado em 1972 e passou por apenas duas reformas desde então, a última registrada em 2006.

Segundo as equipes que trabalham no local, a reforma para a transferência até começou, mas não durou muito e se limitou a parte superior dos prédios. A pequena quantidade de entulhos resultantes da obra, despejados na calçada da Casa de Custódia II, confirma que nada grandioso foi realizado no local.

O delegado da DRN, Jobson Cabral, lembrou que a delegacia não é a única a apresentar problemas estruturais. Uma lista de distritos que passarão por reformas na capital e no interior foi divulgada esta semana. Ele acredita que a Central terá condições de funcionar no lugar, mas isso porque os policiais estão acostumados a trabalhar em condições precárias.

“Eu estou no comando da delegacia desde julho. Nesse tempo, já apresentei a situação aos órgãos de segurança. Recentemente, encaminhei à Corregedoria Geral de Justiça um novo relatório sobre a condição precária e insalubre em que desenvolvemos nosso trabalho. A DRN é uma das delegacias mais importantes já que de dez crimes ocorridos no estado, oito estão direta ou indiretamente ligados ao tráfico. O indivíduo que rouba muitas vezes o faz para comprar drogas; a grande parte dos homicídios acontece nas disputas por pontos de drogas ou dívidas com o tráfico. Por dia, concluímos de seis a oito inquéritos. Que dá para trabalhar dá, mas é passando por cima dos obstáculos”, revelou o delegado ao apontar que os aparelhos de ar-condicionado são quase sucatas, que não há mobília para receber quem vai depor no lugar e que até a cadeira e o computador que usa na delegacia são de propriedade dele.

A decisão da transferência do prédio não foi vista com bons olhos pelo delegado. Para Jobson, a Central deveria continuar onde está, mas cuidando apenas das ocorrências da parte baixa da capital e outra unidade deveria ser criada para atender a parte alta. O problema seria com a centralização das ocorrências que faz com que a população tenha que se deslocar de lugares distantes para efetuar os registros.

O presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Alagoas(Sindpol), Josimar Melo (foto abaixo), é mais radical e entende que o atendimento deveria ser feito apenas nos distritos e que a Central deveria ser extinta por ‘mascarar os dados da violência’.

“A categoria é totalmente contra esse tipo de atendimento. É muito complicado a população ter apenas um lugar para efetuar os boletins de ocorrência, muitas vezes o cidadão acaba preferindo ou até mesmo não tendo condições de se deslocar até a Central. Isso acaba não revelando a totalidade dos crimes que ocorrem na capital e no Estado. Seria mais eficiente investir nas delegacias, uma importante conexão com a população, por estar presente em cada bairro”, disse Josimar Melo.

De acordo com o planejamento da direção da Polícia Civil divulgado em janeiro, além da transferência da Central a estrutura do funcionamento seria alterada. Esta parte da mudança foi mantida e teve início hoje. Até ontem, seis delegados se revezavam nos plantões. Agora uma equipe fixa de oito delegados e quarenta agentes atuará somente na Central, liberando os delegados distritais para dar andamento nas atribuições de suas funções apenas nas delegacias. A alteração foi comemorada pela Associação dos Delegados de Polícia de Alagoas (Adepol), que há muito tempo cobrava que uma equipe de plantonistas fixos fosse montada.

“A mudança só veio nos beneficiar, era uma reivindicação antiga. A jornada de trabalho de um delegado é muito complicada em Alagoas, já que a carência é grande. Atualmente, contabilizamos a necessidade de mais noventa delegados, sem contar que cinco estão para se aposentar agora e mais trinta estão para pedir aposentadoria, cansados pela falta de condições de trabalho”, ressaltou o presidente da Adepol, Antônio Carlos Lessa.

A expectativa é que nos próximos quinze dias as obras de recuperação das novas sedes da Central estejam concluídas, com isso várias mudanças ocorrerão. A DRN passará a funcionar no Pontal da Barra onde hoje é o 22º Distrito, que será transferido para o prédio onde funciona a Central de Polícia, no bairro do Prado. Mesmo destino terá o 1º e 4º Distrito. A Central já abriga em uma sala improvisada e apertada o 3º Distrito.

Problemas na transferência da DRN

Com todos os processos em dia e organizados, o delegado Jobson Cabral espera apenas a definição de uma data para encaixotar tudo e fazer a mudança. Mas a transferência para o prédio onde funciona o 22º Distrito preocupa o delegado desde o recebimento oficial da informação, ocorrido no dia 20 de janeiro.

Dois dias após a notícia, ele encaminhou dois agentes para verificar as condições do prédio do 22º DP. Uma série de defeitos foi apontada e ele encaminhou uma lista de solicitações de mudanças a serem feitas, pedindo que portas e janelas fossem reforçadas com grades de ferro e que reformas em salas fossem realizadas, mas até agora não obteve resposta.

O delegado ainda recebeu a recomendação de levar os ar-condicionados, já que o novo prédio não possui e o local seria muito quente. O problema é que os equipamentos da delegacia de tão velhos parecem sucatas.

A maior preocupação, no entanto, está ligada aos veículos apreendidos e que ocupam a DRN. Atualmente, somam 24 carros e 34 motos. Os veículos já estão na rua em frente à Delegacia por não haver mais espaço para comportá-los no pátio dela. Já o prédio do 22º não tem espaço para recebê-los e o delegado não sabe que medida será adotada.

“Há algum tempo encaminhei um pedido a Corregedoria Geral de Justiça para que fossem utilizados pela polícia. Eles estão se acabando com a ação do tempo e seria interessante que estivessem a nossa disposição para utilizarmos, por exemplo, em operações que fossenecessário veículos descaracterizados. Mas nenhum posicionamento foi dado. Agora, enfrentamos o problema de não saber o que fazer com eles já que não poderão seguir com a transferência por falta de espaço no novo prédio”, disse Jobson Cabral.

De acordo com o delegado geral Paulo Cerqueira, uma medida para essa questão está sendo estudada.