Dizendo isso o homem se pôs a chorar.

12/02/2013 12:52 - Raízes da África
Por Arisia Barros


O silêncio enchia o passeio de um ruído sem ecos. Pessoas caminhavam sem o atropelo de outras gentes, até atravessar as ruas se tornou uma missão possível. O rush diário deu lugar a um asfalto exposto para os poucos passantes.
Manhã de terça-feira, último dia da festa momesca, e de longe vi o homem largado, displicentemente, em um dos poucos bancos que resta no passeio público do bairro dito nobre.
A solidão das ruas e o homem portando, apenas, uma bermuda e sandálias de dedos me causou um certo temor, afinal o carnaval –dizem-não é uma festa cristã (?).
Precavida cidadã da capital alagoana, Maceió, antevi a violência do desconhecido, pensei em cruzar a rua e atravessar para mundos mais seguros, mas não o fiz.
Não o fiz ao perceber os olhos do homem mareados de lágrimas antigas. A camisa, vestia o dorso das mãos, que de tempos em tempos levava, como lenço, para enxugar a água salgada que encantava os olhos. Na outra mão portava um celular e ouvi o preambulo do diálogo rasgado em urgências sentimentais:
- Eu te amo filha! Obrigado por ter lembrado do seu pai. Parabéns, minha filha, seu pai não vê você faz tempo, mas eu te amo. Dizendo isso o homem se pôs a chorar. Avexado por suas lágrimas públicas apossou-se da camisa e rapidamente secou toda saudade de histórias paternais.
Segui adiante e deixei para trás o homem e sua crônica de saudade no último dia de carnaval.
Talvez ele fique bem.
 

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