Ou quase preto de tão pobre.

10/02/2013 13:59 - Raízes da África
Por Arisia Barros

Movimentos culturais e negros se reúnem no próximo dia 15, às 16h, no Quintal Cultural, no bairro da Cambona, em Maceió, para discussão sobre os problemas de violência que atingem os negros em nosso Estado. A morte brutal do músico, dançarino e capoeirista Gutemberg Cassimiro Bandeira, o Guto, no Cruzeiro do Sul, no último dia 05, com seis tiros na cabeça, provocou reação na capital e no interior. Os grupos começaram a confeccionar uma carta que será destinada ao procurador –geral da República, Roberto Gurgel, pedindo intervenção em Alagoas.
E o blog Raízes da África acrescenta: Saiba Marcelo Marques (autor do texto abaixo) estamos nessa luta. Nós nos importamos e vamos seguir  adiante...

Se você, como eu e um monte mais de gente, anda pelo dia e pela noite dessa cidade; se muda de bairro porque vai ver amigos, chegar em casa, ir ao trabalho; se recebe vez ou outra, como esses dias já recebi, o baculejo básico da PM; se mora ou frequenta zonas que os comerciais de plano de saúde e do governo não mostram - se você faz tudo isso ou não precisa fazer pra sacar que pode contribuir com discussão, reflexão e ações, então chegue junto. Proponha. Não sei quantos outros parceiros de música, quantos parentes de guerrilha e paz morreram desde que o Guto foi assassinado. Ele, que deixa família em choque, acaba sendo mais um número, mais um rapaz negro que tomba, como vários outros. Observe-se, por favor, a diferença: quantos casos assim você viu esclarecidos? E quantos assassinatos ficam sem resolução quando, por outro lado, a vítima é "doutor, padre, policial"? Em geral, temos sabido dos pivetes de 15 anos que assaltam e matam gente na Jatiúca, na Ponta Verde. A não ser que a vítima seja preto. Ou quase preto de tão pobre. O Guto deixou uma pá de amigos; muitos desses amigos estão querendo discutir maneiras de propor soluções, contrapartidas. Se seu consolo, quando sabe de notícias assim, é pensar "tava envolvido com droga", "foi trabalhar num lugar barra pesada", "ah, devia ser bandido", "foi acerto de conta entre eles", então talvez seja melhor desconsiderar esse convite pro abaixo-assinado e pro resto. Se você pensa diferente, faça saber. Pra gente não ficar só na lamentação e na constatação. Um abraço pra quem é de abraço.
 

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