O Brasil se veste de anônimo quando cruza com as memórias de Áfricas.

11/01/2013 21:24 - Raízes da África
Por Arisia Barros

Uma democracia não se faz com a voz única dos governantes, mas com o registro vocal do povo ecoando cantos de futuro.
Uma democracia exige participação popular. A equação entre poder e povo funciona melhor quando há porta-vozes de uma nova realidade de culturas,etnias,religiões.
Porque falar sobre racismo?
Porque o tema precisa ser explorado a exaustão para que o passado de dominação não continue a re-alimentar os famintos territórios da nossa memória pós-colonial.
Como nos diz  a professora Roseli Fischmann:“O racismo é uma guerra permanente, declarada ou tácita, mediante uso de quaisquer armas, materiais ou imateriais, com o fim de eliminar o grupo a quem se rejeita a condição humana e a quem se nega a mera possibilidade de existir. A arrogância racista encontra-se exatamente aí, em um inexistente direito que se auto-atribuem os racistas de decidir que alguns não merecem coabitar o planeta.”
Nossa memória colonial vive aprisionada na expatriação negra, estabelecendo lugares distintos dos vencidos e vencedores. Fragmentada ela avança e retrocede porque reconhecer o racismo é expor o abismo entre o racismo benigno e a anatomia do apartheid social.
Segundo Luís, Mir: A máquina social e econômica do racismo existe formal e legalmente em nossa história até a Abolição, 1888. A partir daí, é subterrânea. Trazê-la a luz da superfície exige destrinchar suas relações com o poder do Estado, as etnias dominantes e seus mecanismos. Frente ao racismo como fato social (para nos limitarmos a um universo), ele tem as mais variadas camadas e alegorias, o afirmativo e o negativo, produzindo o ambíguo, o que não é nem um a coisa nem outra embora assim se apresente e negando não apenas o que é evidente, mas inclusive o que contradiz ao evidente”
Instigar a discussão sobre racismo é expandir as possibilidades de representação de um povo ainda fraturado pela memória de um passado que em muitos momentos emerge de nosso inconsciente coletivo em frases curtas e pontuadas de posturas segregadoras.
As muitas Áfricas que moram no Brasil serviram de elementos referenciais para enfatizar a eloqüência da diversidade de um povo que tem uma identidade nacional, mas possui a alma povoada de enredos africanos. Tentar abortar isso é rememorar os estupros metafóricos ou não,sistematizados, planejados e aceitáveis na colônia. Afinal nem gente éramos. Alma então, nem possuíamos!
O Brasil se veste de anônimo quando cruza com as memórias de Áfricas: O Brasil não quer ser africano! 
Instigar a discussão sobre racismo é fazer um contraponto entre a invisibilização social, as lembranças gravadas na epiderme e o silêncio endurecido de um povo. É transcender a história para agregar as Áfricas negras plantadas no cotidiano .
Instigar a discussão sobre as teias do racismo é romper o exílio das palavras tornando-as propaganda do ativismo por uma causa que ousa querer mobilizar um número infinito de pessoas, gentes das Alagoas, do Brasil e de um universo sem fronteiras, que traga a mídia como interprete e parceira na construção da noção essencial de liberdade como forma de vida
E deixo a pergunta no ar: por que há tanta dificuldade no debate sobre o racismo?
Por que de nossa resistência?
Resistir é querer não ver?!?
O que é mesmo diáspora?
 

Comentários

Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.

Carregando..