O governo de Alagoas foi buscar no Japão a inspiração para combater o alto índice de criminalidade que aterroriza a população alagoana. Em Maceió, os bairros do Tabuleiro, Jacintinho, Osman Loureiro e Vergel do Lago contam com os serviços da base comunitária e a redução da criminalidade é perceptível. Em 2013, com dotação orçamentária já prevista, União dos Palmares, Rio Largo, Arapiraca e outros sete municípios receberão as ações.

As bases comunitárias seguem o método do modelo Japonês kōban, onde entre três a quatro policiais agem, preventivamente, aconselhando a comunidade local sobre criminalidade, visitando domicílios. Há um ano e nove meses a frente da Secretaria de Estado de Defesa Social, Dário César, reforça a crença no modelo japonês-alagoano, porém, alerta que os resultados acontecem a curto, médio e longo prazo.

“As bases trouxeram uma nova forma de policiamento. A interação diurna entre Polícia e comunidade nos mostra as principais necessidades. Com isso, o Estado se faz presente e as deficiências são sempre respondidas. Até o momento o saldo é completamente positivo”, explicou.

Diariamente, uma dupla de policiais percorre algumas residências e colhe informações sobre a situação de crianças, usuários de drogas e eventuais bandidos que estejam na comunidade. “Os nossos policiais fatiam a comunidade e mapeiam todos os problemas. O nosso modelo de fazer polícia é bem diferente dos outros. Não entramos na região apenas com a força coercitiva, mas sim com o objetivo de garantir um futuro melhor para todos. Agora, o cidadão se encontra ao lado da Polícia. Essa mudança de postura mostra a troca de confiança entre agentes da segurança pública e moradores. Uma quebra de paradigma que há muito tempo não se via em nosso estado”, pontuou.



Apesar dos bons resultados ‘vendidos’ pelo governo, Dário César ressalta que apenas o poder de Polícia não transformará a realidade das ruas. Ele defende a aglutinação de forças para reverter o triste quadro da violência em Alagoas. “É preciso entender que Anjos da Paz, base comunitária e os órgãos do Estado não vão fazer às vezes da célula-mãe da sociedade que é a família. Chegamos a essa situação de extrema violência devido à degradação da família. Falta Deus no coração das pessoas. É pai matando filho e filho matando mãe. Um total descontrole dos princípios sociais. Apesar da falência do lar, o Estado vem trabalhando para resolver e, consequetemente, superar essa carência”, disse.

A situação de pobreza e miséria extrema de Alagoas foi apontada pelo secretário como mais um motivo que contribui diretamente para os índices de violência. “Durante muito tempo o tema Segurança Pública em nosso estado não foi tratado como se deveria, por diversos motivos. O governador Teotônio Vilela Filho tem, graças a Deus, uma visão macro da problemática e trabalha no sentido de resolver. Hoje, infelizmente, trabalhamos no caos, resultado da falência de políticas públicas de décadas. Precisamos, essencialmente, reverter esse quadro colocando crianças nas escolas de regime integral. Colocar também jovens ociosos no mercado de trabalho. Repito: engana-se quem espera que a Polícia tem o poder de resolver tudo. Os agentes da segurança pública não são a panacéia de todos os males”, alertou.

Policiamento no Conjunto Carminha

No dia 17 de agosto de 2011, a Base Comunitária do conjunto residencial Carminha, no Complexo do Benedito Bentes – o embrião do projeto – foi inaugurada após um terrível crime que chocou a população maceioense. A dona de Casa Maria de Lourdes Farias de Melo, 27, foi esquartejada por bandidos depois de ter, supostamente, delatado à polícia nomes de traficantes que comandavam a região.

Na inauguração, o governador Teotônio Vilela Filho (PSDB) prometeu reduzir drasticamente os índices de violência na localidade e garantiu que até o final de sua gestão, em 2016, 40 bases comunitárias serão construídas. Após um ano e três meses, a reportagem foi até o marco zero do projeto e conversou com policiais, educadores, moradores e comerciantes.



A base localizada no Carminha é responsável pelo policiamento em outros três conjuntos: Benício Mendes, Parques das Américas e 1º de Junho. “Houve, sem dúvida, uma drástica redução nos índices de violência. Estamos mais próximos da comunidade e vice-versa. As ocorrências policiais nessas regiões são pontuais e diariamente tentamos resolver através do policiamento comunitário”, informou o sargento Edvaldo.

O sargento destacou que o trabalho da polícia não acontece apenas nas ruas dos conjuntos, mas também em outras áreas. Através do projeto ‘Bombeiro Mirim’, os alunos da Escola Municipal Petrônio Viana fogem da rotina e têm aulas com militares do Corpo de Bombeiros sobre diversos temas.

“As ações das Secretarias acontecem em diversos tentáculos. Recentemente, implantamos o projeto lutando pela paz e os alunos têm aulas de taekwondo. A aceitação é crescente e a participação também. É mais uma forma de retirá-los da rua e assisti-los no que for possível”, ponderou.

Falta do seio familiar

Na última segunda-feira (29), durante rondas e visitas, os militares lotados no Carminha observaram que uma criança de 11 anos tatuou ‘artesanalmente’ um palhaço no braço. Nos presídios, esse tipo tatuagem identifica os assaltantes de bancos e assassinos de policiais. Após observar o desenho, o menino foi encaminhado até a coordenação da escola municipal.

“Ao lado de professores, tentamos mostrar as crianças que a vida no crime não traz resultados. Se trouxer, provavelmente será morte. Essa troca de informação é diária e fortalece o nosso papel na comunidade”, comentou o sargento.



A psicopedagoga da escola municipal Petrônio Viana, Janete Gomes de Alcântara, conversou com o garoto e ouviu relatos sobre a completa desestrutura familiar que é submetido diariamente. “Esse menino tem um lar totalmente conturbado. A avó o cria juntamente com outros três irmãos e a atenção necessária não é dada. A mãe dele está em São Paulo e há muito tempo não envia notícias. O pai só aparece em casa para deixar a feira do mês. Toda essa situação resulta na convivência da criança. Com a palavra dos policiais, tentei mostrar que essa tatuagem não acrescenta nada a vida dele. Ele é um excelente menino e sua queda de produção na escola acontece por problemas lá fora”, relatou.

Gomes considera positivo o saldo apresentado pela base comunitária no Carminha e se mostrou bastante otimista com o futuro desenhado para os próximos meses. “O caso da tatuagem não é o único em nossa escola. Temos outros semelhantes. É latente a falta de estrutura familiar em diversos casos. O policiamento comunitário faz parte do processo de evolução social. Após conversa com cada aluno, reafirmo o compromisso em ajudá-los e ressalto que não vou desistir”, expôs.

Está bom, mas pode ficar melhor

A reportagem percorreu algumas ruas do Carminha e colheu relatos de moradores e comerciantes locais. Eles destacam o trabalho da polícia, mas revelam no tom da voz e no olhar de desconfiança o temor pelo retorno ao passado que ainda está no ar.

“Muitas situações do passado não existem mais. Antigamente, como exemplo, caminhões comerciais não podiam entrar por aqui. Hoje, isso não existe. Desde que a base se instalou estamos um pouco mais tranquilos. Mas, ninguém sabe até quando eles vão ficar, não é?”, indagou uma comerciante que condicionou a entrevista ao sigilo do nome e da foto do estabelecimento.

Mesmo com as diligências nos bairros, a quantidade de apreensão de armas e drogas é bem pouca nas regiões assistidas pela base. Os militares acreditam que houve uma migração entre o tráfico a luz do dia para o tráfico velado. “A polícia prende um ou outro, mas os grandes traficantes ficam aí infernizando a vida da gente. Sabemos, é verdade, que nenhum trabalho acontece do dia para o outro. Mas, precisamos que a polícia prenda ‘os cabeças’. Quero ter o direito de vender meus produtos sem essa grade que tanto amedronta a meu filho e clientes. Quero ter o direito de ir e vir sem temer pela reação de qualquer bandido. Vamos ter fé em Deus”, almejou.

Por meio do Programa ‘Brasil Mais seguro – Quem Ama Alagoas Constrói a Paz’, o Governo Federal destaca os resultados obtidos no policiamento comunitário e ressalta a iniciativa do Estado. A secretaria Nacional de Segurança Pública, Regina Miki, é mais uma que engrossa o coro em favor das bases comunitárias.