Consórcio do crime: tráfico aluga fuzis por até R$ 10 mil para assaltantes

14/10/2012 11:30 - Polícia
Por Redação

Com os lucros reduzidos após a implantação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), traficantes de drogas tentam cada vez mais diversificar os negócios. Em uma espécie de consórcio do crime, chefes do tráfico passaram a alugar com mais frequência armas para assaltantes.

O pagamento do aluguel pode ter valor fixo ou um percentual sobre o roubo, entre 20% e 30%, conforme explica o delegado Rodrigo Santoro, titular da DRF (Delegacia de Roubos e Furtos), da Polícia Civil.

— Nós percebemos que esses criminosos estreitaram as relações após o processo de pacificação das favelas. Existem duas situações: quadrilhas especializadas em roubos a bancos e a carros-fortes, que chegam a pagar até R$ 10 mil por um fuzil, e aqueles ladrões que usam revólveres e pistolas para assaltar na rua. Esses [assaltantes] criam intimidade com os traficantes e dão uma parte do lucro.

O segundo tipo de assaltante é considerado mais perigoso pela polícia, pois vai para as ruas disposto a tudo — roubar, trocar tiros com a polícia e matar. Eles acabam sendo usados pelos traficantes para proteger o território da facção criminosa e até em invasões de comunidades dominadas por rivais.

— Alguns criam uma relação tão próxima que acabam atuando no tráfico, assumindo bocas de fumo. No caso das quadrilhas que alugam armamento pesado, o valor vai depender do tipo de arma e do estado de conservação dessa arma. Os ladrões também usam as favelas como esconderijo.

Fabiano Atanázio da Silva, o FB, já preso, e Luciano Martiniano da Silva, o Pezão, chefes do tráfico na Vila Cruzeiro e Complexo do Alemão, respectivamente, são réus em processos de roubos a banco. Eles são apontados como “responsáveis por fornecer o armamento para o crime, mediante contrapartida financeira”.

Em um dos roubos, ocorrido em 12 de junho de 2009, R$ 25 mil foram roubados de uma agência bancária da Barra da Tijuca. Dias antes, foram roubados pouco mais de R$ 6.000 de uma agência em Vicente de Carvalho. Um dos réus nos dois processos admite os crimes, mas nega a relação com os traficantes. Ele diz que as armas usadas nos crimes são próprias e não foram adquiridas no Alemão.

— É comum o assaltante negar a ligação com o tráfico. Se ele admite, além do crime de roubo qualificado, vai responder também por associação ao tráfico. Além de se prejudicar, prejudica o chefe do tráfico. Nenhuma arma é alugada sem o aval do chefe do tráfico local.

De acordo com dados do ISP (Instituto de Segurança Pública), os roubos a banco aumentaram no Rio. Entre janeiro e agosto, foram registrados oito casos, um a mais do que o verificado no mesmo período do ano passado. Já os roubos a caixa eletrônico passaram de dois para 12 entre 2011 e 2012 na capital.

Grande Rio: "pedágio" ao tráfico

Em Niterói, na região metropolitana do Rio, o delegado Gabriel Ferrando, titular da Delegacia de Itaipu (81ª DP), investiga não só o aluguel de armas por traficantes, como o pagamento de pedágio por ladrões, uma espécie de autorização dos chefes do tráfico para que possam roubar na região.

— Muitos dos roubos, principalmente de veículos, praticados aqui na região são cometidos por criminosos de São Gonçalo, de comunidades controladas por traficantes. Temos informações sobre aluguel de armas e até pagamento de pedágio. Estamos investigando para comprovar isso e ampliar a responsabilização pelos crimes.

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