As mães choravam, silenciosamente, a solidão das ruas.

13/10/2012 19:47 - Raízes da África
Por Arisia Barros


Eram três a quatro meninas. Todas sujas. Todas pretas. A menorzinha de um ano e alguns poucos meses estava com a ‘vergonha’ exposta na rua- como diriam os mais velhos. Totalmente desnuda.
Todas meninas pretas, no dia da criança se banhando em água escaldada de cor duvidosa, o sol temperando o calor.
Meninas pretas vivendo no limbo, entre o nada e o agora.
Somos todos iguais diz a Carta Magna da nação brasileira.
Crianças, curiosamente, invisíveis aos olhos da multidão de gente que superlotou o comércio de Maceió, Al, no feriado da nossa santa padroeira preta. Nossa Senhora de Aparecida.
As pessoas olhavam de soslaio, ou esquivavam-se das meninas, que descontraídas jogavam água uma na outra, tendo o balde cheio de água turva, como banheiro improvisado.
Duas mulheres, talvez mães, olhavam apáticas as meninas com as peles encardidas pela sujeira do mundo.
O mundo é sórdido, meninas! Sujo também!
Brincavam as meninas ao lado da igreja símbolo da ostentação da burguesia local, cuja restauração custou aos cofres públicos um milhão e duzentos mil reais e outros parcos centavos.
No dia das crianças, as meninas pretas brincavam, despreocupadamente, o jogo do contente.
As mães choravam, silenciosamente, a solidão das ruas.
12 de outubro, também é dia das crianças.
De todas?

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