Xingue-os do que você é, acuse-os do que você faz

05/10/2012 08:31 - Adrualdo Catão
Por Adrualdo Catão

Há um texto de Olavo de Carvalho que pode ser muito elucidativo sobre a atuação de alguns candidatos a pleitos eleitorais. Ele fala da máxima atribuída a Lênin: “Xingue-os do que você é, acuse-os do que você faz.”

Muitos pensam que estão inventando uma estratégia política brilhante! Mas ela é tão velha quanto a política...

Vejam um trecho do brilhante artigo de Olavo de Carvalho, que fala sobre as mentiras e os métodos maquiavélicos da política:

Se há uma lição que a História ensina, documenta e prova acima de qualquer dúvida razoável, é a seguinte: sempre que os comunistas acusam alguém de alguma coisa, é porque fizeram, estão fazendo ou planejam fazer logo em seguida algo de muito pior. Acobertar crimes sob afetações histriônicas de amor à justiça é, há mais de um século, imutável procedimento-padrão do movimento mais assassino e mais mentiroso que já existiu no mundo.

Só para dar um exemplo incruento: o Partido dos Trabalhadores ganhou a confiança do eleitorado por sua luta feroz contra os políticos corruptos, ao mesmo tempo que ia preparando, para colocá-lo em ação tão logo chegasse ao poder, o maior esquema de corrupção de todos os tempos, perto do qual a totalidade dos feitos de seus antecessores se reduz às proporções do roubo de um cacho de bananas numa barraca de feira.

Mas nem todos os episódios desse tipo são comédias de Terceiro Mundo. Nos anos 30 do século passado, o governo de Moscou promoveu por toda parte uma vasta e emocionante campanha contra as ambições imperialistas de Adolf Hitler, ao mesmo tempo que, por baixo do pano, as fomentava com dinheiro, assistência técnica e ajuda militar, no intuito de usar as tropas alemãs como ponta-de-lança para a ocupação soviética da Europa.

Os exemplos poderiam multiplicar-se ilimitadamente. Em todos os casos, a regra é a máxima atribuída a Lênin: “Xingue-os do que você é, acuse-os do que você faz.”

É claro que, aqui, em uma eleição mais singela, não estamos diante de crimes contra a humanidade. O que há é somente um maquiavelismo tosco, em que muitos, ao mesmo tempo em que falam mal, mentem e inventam histórias, choram na frente das câmeras e reclamam perseguição. Ao mesmo tempo em que tratam adversários como inimigos numa guerra, pedem paz.

É a velha e boa vitimização de sempre.

Como também já disse Reinaldo Azevedo, o melhor lugar para ser truculento é na posição de vítima!

A que propósito serve a tática? Ora, não há melhor lugar para exercer o discurso da truculência do que o lugar da vítima. É o vitimismo que confere a licença moral para as maiores atrocidades. A história é plena de exemplos:

- os nazistas consideravam que o povo alemão havia sido a grande vítima da Primeira Guerra Mundial e do Tratado de Versalhes;
- os stalinistas consideravam que a então nascente república socialista era vítima dos anti-revolucionários e das nações européias que combatiam o socialismo;
- os sérvios se consideravam vítimas do alinhamento então passado dos croatas com os nazistas;
- os croatas se consideravam vítimas da liderança dos sérvios durante o regime comunista iugoslavo;
- os terroristas palestinos se consideram vítimas do sionismo;
- a Al Qaeda se considera vítima dos “cruzados”.

Sinceramente, não tenho paciência para esse tipo de coisa. Isso é coisa velha na política, por isso não me surpreendo. Termino, então, com uma frase do mesmo artigo de Olavo de Carvalho: “Não há nada de surpreendente em que as cobras venenosas piquem. Surpreendente é que alguém ainda se surpreenda com isso”.
 

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