Em Alagoas a morte, também, tem status.

04/10/2012 07:15 - Raízes da África
Por Arisia Barros

A menina Sibele Ferreira dos Santos tinha oito anos e sumiu da porta de casa, no município de Pilar, Alagoas no dia 13 de setembro. Ficou 20 dias desaparecida.
A mãe da menina apareceu várias vezes em programas televisivos e suplicava: Por favor, devolva minha “fia”.
Mulher pobre e quase preta a súplica não despertou a fúria da sociedade alagoana em busca de justiça. Nem passeatas de protesto. Só no entorno da menina no município de Pilar.
Com a voz empalidecida pelo abandono social a mãe chorou abraçada a foto da filha.
A menina Sibele Ferreira dos Santos foi assassinada, aos oito anos. Assassinada pela ausência de uma eficaz e eficiente participação do estado na segurança dos seus tutelados.
Sibele foi assassinada pela brutalidade opressiva da paralisia imposta pelo estado mínimo.
A forma cruel como foi assassinada não criou grandes repercussões. Afinal, a morte de pobre e preto é socialmente estigmatizada, naturalizada, nas terras de Palmares.
Sibele foi assassinada, como uma sequência ininterrupta de uma mesma história secular: criança moradora da periferia e a pele quase preta, daqui a pouquinho o caso cai no esquecimento e quem sabe com justificativas: a mãe deixou a menina ‘solta” na rua.
A morte em Alagoas também tem status. Investe-se de valores: morre a elite é fatalidade. Pobre é sinônimo de droga.
O silêncio em torno do sequestro e assassinato de Sibele revela a hipocrisia por traz da conivência social com os valores do status quo.
O racismo tem um temperamento espinhoso. É incomodo e desagradável em permanente desavença com a humanização do povo de pele preta.
A mãe enterrou os ossos expostos de Sibele, encontrado em uma canavial, vinte dias após seu sumiço. Sequestram-lhe a vida e roubaram os sonhos da mãe.
Aos oito anos a menina Sibele foi assassinada.
A família chora sua morte.
Descanse em paz, menina.
Descanse em paz!


 

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