- Me dá um real-diz a menina- com a mão estendida no sinal da mendicância, o nariz escorrendo abandono social
Respondo: - Não tenho!
E ela atrevida: - E a senhora é tão pobre assim que não tem nem um real na bolsa?
A bolsa e o bolso estão vazios de um real, mas a alma por sua vez fica transbordando de inquietação.
Por que nossas crianças estão tão expostas às mazelas das ruas?
Por que tantas e muitas têm a pele que conta a história da escravatura?
A menina irritada me olha instigando resposta financeira e para não ouvi-la , sigo adiante.
Seguir adiante, esticando o olhar no entorno da cidade e constatando da miserabilidade que atinge em cheio a população negra, nas Alagoas terra de Zumbi.
Nas terras de Zumbi o povo negro é escravo das ideologias do poder colonial.
Nas Alagoas das belas pais a República de Palmares é cotidianamente afogada pelo racismo internalizado e institucionalizado.
Em Alagoas a prática da democracia racial é a politica negra vigente.
Negr@ em Alagoas vive uma cidadania sem identidade.
-Moça, me dá um real- insiste a menina.
Sigo!