Quase cinco meses após as ameaças de ataques terroristas contra os estudantes, a UnB (Universidade de Brasília) reforçou a segurança no campus Darcy Ribeiro e diz que está monitorando a prisão dos autores das ameaças

No último dia 12 de abril, uma mensagem publicada em um blog e espalhada pelas redes sociais anunciava um ataque à bomba no campus da UnB no dia seguinte. Os autores seriam cúmplices do ex-estudante da instituição Marcelo Valle Silveira Mello e do especialista em informática Emerson Eduardo Rodrigues, que foram presos por racismo em março, acusados de convocar extremistas para um massacre na UnB. As mensagens publicadas faziam apologia a crimes contra mulheres, negros, homossexuais, nordestinos e judeus, além de instigar abusos sexuais.

De acordo com a decana de assuntos comunitários, em exercício, da UnB, professora Márcia Melo Martins Kuyumjian, a reitoria tem acompanhado a situação dos jovens, que estão presos em Curitiba (PR). Ela diz que, apesar de o processo contra eles correr em segredo de Justiça, a universidade tem mandado ofícios regularmente à PF (Polícia Federal ) para certificar que eles ainda permanecem presos. Segundo a superintendência da PF no Paraná, os dois continuam na prisão e tiveram o pedido de liberdade negado pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça).

Além do monitoramento dos autores das ameaças, a universidade acionou a Polícia Federal e a Civil para reforçar a segurança no campus Darcy Ribeiro. A decana informou ainda que o Conselho de Segurança da UnB também foi fortalecido. O órgão é formado por professores, servidores e alunos da instituição e discute estratégias de proteção à universidade.

Segundo a professora, esse trabalho é complementado pela ação do Batalhão Universitário ou Policiamento Cidadão Universitário, implantado após as ameaças, que levanta as fragilidades na segurança do campus. A decana garante que o clima na universidade é de tranquilidade.

— Desde então tem reinado uma paz por aqui. Até mesmo porque começou a greve logo após as intimidações, que foi uma tentativa abortada de usar um padrão internacional de ameaças que não surtiu efeito.

A decana informou ainda que aumentou o número de vigilantes e foram instaladas câmeras de segurança, bem como uma sala de monitoramento das imagens.

No entanto, o reforço das medidas de segurança não tranquilizaram totalmente os alunos da universidade. O estudante de antropologia O. S. contesta as informações da decana em exercício.

Ele diz que a reitoria não apresentou um plano efetivo para a segurança dos frequentadores da UnB. Entre as medidas que ele destaca como necessárias está a apresentação de um plano emergencial caso os ataques venham a ocorrer.

— Os seguranças da UnB estão preocupados com as questões patrimoniais e, ao mesmo tempo, é falso afirmar que com a presença da Polícia Militar no campus, por exemplo, a situação ficaria mais tranquila, porque a PM não está preparada para esse tipo de ataque. Então continuamos na mesma vulnerabilidade de antes.

Ele diz que os alunos se mobilizaram para esclarecer as informações sobre as ameaças e evitar o clima de boataria e pavor. Segundo ele, os estudantes, sem apoio da reitoria, também participaram da prisão do professor de história que entrou no campus, rasgou cartazes dos estudantes e disse que iria “acabar com os comunistas”.

— Nesse dia ficou claro o despreparo da reitoria em lidar com situações desse tipo.

Uma ex-estudante de antropologia e pesquisadora da UnB, que também pediu para não ser identificada, diz que mesmo após cinco meses, ainda não se sente segura no campus.

— Vai demorar para a gente ficar tranquila, até porque o caso ainda não foi totalmente esclarecido. Qualquer barulho diferente já deixa a gente apreensiva.

Ela diz que não tem informações sobre a situação dos jovens presos pela Polícia Federal, mas que vê a ronda de homens uniformizados que começaram a circular pela universidade depois das ameaças. A estudante afirmou ainda que sente falta de debates sobre o tema na universidade.

— Acho que deveria haver uma grande reflexão sobre o motivo de coisas assim acontecerem. Essa discussão político-social poderia ajudar, inclusive, a evitar a reincidência de casos como esse. Mas o que acontece é uma reação alarmista de apagar o incêndio e pronto.

Segundo O. S., atitudes de ódio e intolerância são comuns na universidade, como ataques homofóbicos, ataques a mulheres ou perseguição de movimentos políticos dos estudantes. Ele diz que a situação fica evidente nas pichações em cartazes ou nos banheiros da universidade. Para ele, as ameaças representam a radicalizações dessas atitudes.

— Nesse caso, houve um acúmulo de fatores: desde a luta pelas cotas, a marcha das vadias, a reportagem da Veja que dizia que a UnB é um “madrigal de esquerda”, tudo isso aguçou o ódio da parte conservadora dos estudantes da universidade, que chegaram ao ponto de radicalizar isso na tentativa de um ataque.