A procuradora da República Léa Batista afirmou nesta terça-feira (21) aos parlamentares da CPI Mista do Cachoeira, que foi vítima de uma tentativa de invasão da sua casa.

A procuradora é responsável pelas investigações da Operação Monte Carlo, que resultou na prisão do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. O bicheiro está preso desde fevereiro, na penitenciária da Papuda, em Brasília. Desde as ameaças, a procuradora é acompanhada por seguranças.

“Uma mulher tentou entrar lá às 5h45 da manhã, mas não conseguiu isso. A minha equipe de segurança foi abordada por PMs e na semana da audiência de instrução e julgamento, a própria equipe identificou uma marcação do carro que estava sendo usado na minha condução”, disse a procuradora.

Léa e o procurador Daniel Salgado prestam depoimento na manhã desta terça à CPI Mista que investiga as relações do contraventor com políticos e empresários. Segundo ela, a tentativa de invasão na sua casa ocorreu no final de julho, mesmo período em que ocorria a audiência de instrução da Operação Monte Carlo, na Justiça Federal de Goiânia.

“A organização criminosa não foi desarticulada e isto está claro por meio das ameaças e chantagens”, disse a procuradora.

Léa Batista já foi vítima de outras ameaças do grupo. A procuradora recebeu e-mails intimidadores por sua atuação na investigação. O ex-cunhado de Cachoeira, Adriano Aprígio, chegou a ser preso acusado de enviar os e-mails à procuradora. Aprígio disse, por meio de seu advogado, que se sentiu injustiçado com o indiciamento no inquérito da Operação Monte Carlo. Apontado pela PF e Ministério Público Federal como principal testa-de-ferro de Cachoeira, o ex-cunhado nega que atue como laranja do contraventor.

"Recebi dois emails, o primeiro no dia 13 de junho em caráter claramente intimidatório e o segndo, na semana seguinte falando que eu e minha família corríamos risco. Os dois emails já foram identificados e saíram da cidade de Anápolis, que é o reduto da família Cachoeira e da organização criminosa", disse Léa Batista.

Após ser solto, Aprígio admitiu ter mandado um dos três e-mails enviados à procuradora, mas disse que a mensagem não continha nenhuma intimidação ou ameaça. Segundo o advogado dele, Ronivan Peixoto, Aprígio enviou a mensagem, perguntando por que a procuradora "foi tão dura demais" com os investigados e afirmando que Léa Batista quase destruiu a família dele. Aprígio negou, no entanto, ter enviado duas mensagens com conteúdo mais ameaçador e ofensivo. Ele seria sócio de Cachoeira no laboratório Vitapan, em Anápolis.

A procuradora da República afirmou que a organização criminosa comandada por Cachoeira tem características de organização mafiosa, uma vez que seus integrantes optam pelo silêncio. Mesmo diante da Justiça, na audiência de instrução, nenhum dos integrantes prestou depoimento.

“A organização possui diferentes características, que nos faz concluir que possuem esta característica mafiosa. A postura desta organização, de silêncio, é típico das organizações criminosas, de padrão mafioso. É o traço mais revelador de articulação do grupo, que possui em seus quadros pessoas leais ao seu chefe, Carlinhos Cachoeira”.

Procurador
O procurador Daniel Rezende Salgado disse que vazamentos de informação prejudicaram a investigação do "braço empresarial" do esquema. "Todas as vezes que um policial federal chegava perto de um lugar onde havia a jogatina, essas pessoas eram avisadas da existência de carros suspeitos", contou.

Segundo ele, os vazamentos fizeram com que a operação tivesse que ser antecipada. "O juiz e os órgãos persecutórios ficaram em situação vulnerável. Tínhamos uma parte empresarial do grupo em que não conseguimos desenvolver nenhuma parte de investigação. Essas interceptações e as quebras de sigilo bancários e fiscais ainda não conseguimos ter acesso a elas. Essa investigação do braço financeiro ainda não conseguimos desenvolver."

Rezende cobrou que o Estado reprima o jogo ilegal e deixe de tomar atitudes meramente paliativas. "Há necessidade de se tentar sufocar essas casas de jogos. Não temos um trabalho coordenado, linear. O que o Estado faz é um trabalho meramente paliativo. Você fecha uma casa de jogos e ela logo migra para outra cidade."