O policial federal Fábio Alvarez afirmou nesta terça-feira (24), em depoimento à 11ª Vara da Justiça Federal em Goiânia, que o agente da Polícia Federal Wilton Tapajós Macedo, assassinado na semana passada em um cemitério, havia sido abordado por policiais militares ligados ao grupo de Carlinhos Cachoeira durante a Operação Monte Carlo.
Tapajós Macedo foi assassinado na terça passada (17) quando visitava o túmulo dos pais, em Brasília. A Polícia Federal abriu uma investigação para apurar quem matou o agente.
Fábio Alvarez falava sobre a infiltração de pessoas do grupo de Cachoeira nas polícias de Goiás, quando a procuradora Léa Batista, do Ministério Público Federal de Goiás, perguntou especificamente sobre o agente Tapajós. "O agente Tapajós teve dificuldade?", interrogou a procuradora ao policial.
Alvarez respondeu que "constantemente" havia encontros de membros da organização e que fazia vigilância na casa de uma ex-servidora da Prefeitura de Luiziânia de nome Regina, quando foi abordado por policiais militares. Segundo ele, havia policiais que recebiam valores mensais do grupo. “Claramente havia pagamento a policiais civis e militares. Eera feito mensalmente e dependendo da pessoa, quem efetuava este pagamento era o Dadá. Demais pagamentos para policiais, delegados da Polícia Civil, eram feitos pelo Lenine, através da Regina”.
“[O termo] assistência social era citado constantemente nos áudios, e depois constatamos que se tratava de propina paga aos servidores públicos”, completou o policial.
"Ele [Tapajós] foi abordado por policiais militares durante vigilância que fizemos na casa da Regina, e como constantemente acontecia encontros na casa desta servidora, constantamente fazíamos diligências ali. Ele teve de usar histórias de coberturas para poder não ser identificado naquele momento e ter preservado o trabalho", disse Alvarez.
A Regina citada é Sônia Regina de Melo, uma das 81 pessoas denunciadas pelo MPF na Operação Monte Carlo. Segundo o MPF, ela é servidora pública da Delegacia Regional de Luziânia (GO) e era responsável pela captatação dos policiais para atuação no grupo de Cachoeira. Ela não é alvo do processo no qual o juiz coleta depoimentos nesta terça, Ela é ré junto com outras 72 pessoas em um processo que foi desmembrado.
Ainda segundo Fábio Alvarez, foram registrados casos de pagamento de propina a policiais civis e até a tentativa de obter informações da Força Nacional. Para isso, disse o agente em depoimento, o grupo utilizava os serviços do ex-sargento da Aeronáutica Idalberto Matias, o Dadá.
"Teve episódio na proximidade da deflagração da Monte Carlo. A organização identificou um carro e começou a ver quem seria. Carlos Augusto [Cachoeira] entra em contato com Idalberto. Eles abordaram os policiais, pegaram a placa e identificaram. Idalberto, através de Anderson Drumont, um administrativo da PF, solicita em mensagem para identificar essa placa. Depois ele retorna. Isso causou vulnerabilidade aos trabalhos pela forma com que se infiltraram."
Anderson Drumond também é um dos 73 denunciados que respondem ao processo que foi desmembrado.
Fábio Alvarez narrou ainda casos de pagamento de propina no caso do fechamentro de um bingo. "Foram apreendidos materiais. Eles começaram a entrar em contato com pessoas ligadas à Polícia Civil para tentar recuperar esses equipamentos. Fizeram contato com Regina, de Luziânia, e um policial recuperou máquinas da delegacia e levou para os depósitos da organização criminosa. Em duas oportunidades foram feitos pagamentos."
Em outro momento, o agente Fábio Alvarez cita que as interceptações deixaram claro que Cachoeira "era líder da organização criminosa". Segundo ele, a abertura de casas de bingo era feita "sempre com ordem dele".
Bate-boca