O racismo vomita complexidades.

09/07/2012 18:38 - Raízes da África
Por Arisia Barros

A menina traz a infância pendurada no pescoço- a chupeta que leva a boca- como um consolo previsível.
É bela a menina com sua farta e crespa cabeleira, fios enrodilhando uma história de ancestralidade.
A mãe da menina usa os cabelos hermeticamente alisados. Os fios presos se acomodam na subjugação da química, trazendo para moça a “sensação” da hegemonia.
A menina de fartos e crespos cabelos impulsionada pela idade não para quieta.
Tem quatro anos de inquietude à cata das descobertas.
Estamos eu, minha filha e minha mãe em um restaurante da capital. É domingo do lazer de ver a rua e observar a menina que acompanha a mãe em seu local de trabalho.
O mundo é bom, mamãe? Dispara a menina quebrando o silêncio um tanto impertinente que encostou-se no entorno da mesa.
A mãe acordada abruptamente, em seu local do trabalho- conta mentiras deslavadas: É sim, minha filha. O mundo é bom.
Será?
A menina satisfeita, nos seus quatro anos, despeja uma enxurrada de palavras como a livrar a garganta da paralisia dos excessos.
A menina é negra e bela e disparo o elogio da beleza negra da menina.
E reforçando o caráter do jogo da democracia racial com uma fidelidade histórica a mãe responde convicta:
Minha filha é bela, sim. Negra jamais!
O racismo vomita complexidades.


 

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