Meu velho e falecido pai era um sujeito rústico. Tinha uma aspereza própria dos nascidos, faz tempos, nas Alagoas do nordeste brasileiro.
Meu pai reconhecia a moeda brasileira como conto de réis e por achar a expressão bela, tenho-a internalizada em meu dicionário diário.
Era um cabra valente, meu pai, desses que não manda recado, simplesmente abria o verbo e esgotava o pensamento.
Funileiro, era chamado de mestre pela destreza em lidar com a arte do ferro. Na verdade era um artista nato, meu pai.
Nas festas juninas ia ao Mercado da Produção na sua Kombi amarela providenciar madeiras para montar a fogueira que assaria o milho, deleite agilmente triturado pela boca de poucos dentes.
Foi um sujeito muitíssimo especial, esse meu pai já não mais fisicamente presente.
Olha pro céu meu amor... Veja como ele está lindo!....
Lembrei-me dele faz pouco ao ouvir Luiz Gonzaga. Era um bom ouvido para música do velho Luís que cantava: Luís, respeita Januário!,.
Meu pai louvava Ataulfo Alves e os grandes da MPB.
Foi com meu pai, um cabra semi-analfabeto que estabeleci uma incomensurável intimidade com a palavra que caminha nas páginas dos livros, como também a palavra escrevente. Livros são os melhores amantes para o cérebro.
Nessa época junina a alma minha fica inchada de recordações do Séo Antônio, quando vestia seu melhor sorriso e explodia uma carinho tímido no olhar, já sem a nitidez do ver.
Meu pai foi um humano repleto de significados.
Tenho lembranças azuis e nem tanto, mas todas as lembranças me dão a certeza de que ao ter esse áspero homem como pai absorvi o real entendimento da velha canção dos ancestrais.
A partir da ancestralidade tenho hoje um lugar repleto das certezas que se encontram.
Tenha aí no firmamento, Séo Antônio, uma feliz noite ao lado de São João Baptista.
Sua benção!