Eu sou vadia. Você não é?

16/06/2012 20:31 - Raízes da África
Por Arisia Barros


Vadiar é sinônimo de devassar.
Devassar é palavra que rasga as fronteiras dos conceitos pré-determinados socialmente.
Devassar é vadiar. Vadiar é inquirir, perguntar, investigar fato criminoso ou visto como tal.
O estupro de meninas e mulheres em Alagoas é um fato criminoso que não tem a devida repercussão na estrutura do estado, nem o olhar social.
Em nome das incontáveis meninas, adolescentes e mulheres que cotidianamente tem suas dignidades estupradas pela ferocidade humana e inoperância estatal,
Eu sou vadia.
Em nome de Vitória Galdino dos Santos, de 06 e Jaciara Galdino dos Santos, de 04 anos, violentadas e estranguladas, na semana de comemorações ao Dia da Criança, em outubro de 2009, e seus corpos jogados em um vala rasa, como quinquilharias sem valor, próximo a uma construção abandonada , no bairro da Santa Amélia, em Maceió.
Mortas a sangue-frio, a ruptura da infância das meninas pobres não comoveu a sociedade, mesmo quando o violentador contou a polícia que: “primeiro estuprou e estrangulou a irmã mais velha, sob o olhar da criança mais nova ,morta em seguida”.
Está provado que a cultura do nascer mulher, além pobre,preta e periférica é tratada como descarte social?
Em nome de A. K. S, que aos cinco anos foi estuprada, assassinada e teve o corpo jogado embaixo de uma ponte do Rio Paraíba, no Bairro Novo, em Coruripe, Alagoas.
Em nome de Cinthia da Silva Santos 14 anos e sua meio-irmã Cícera Beatriz, de 12 anos, torturadas e mortas com tiros na cabeça, tendo os corpos encontrados em avançado estado de putrefação, em maio de 2011, em Coruripe, AL
Eu sou vadia.
Em nome de Maria Eduarda dos Santos, de 16 anos, e Cinthia da Silva Santos, de 15 anos, mortas e estupradas em Coruripe, Alagoas, em 2012.
Eu sou vadia.
A matança silenciada de tantas mulheres nas Alagoas dos Marechais é como um estado de guerra civil interna. Uma história que cruza fronteiras e atravessa séculos, como reflexo do massacre e exploração escravocrata e de nossa secular desigualdade social.
Mulheres negras tiveram seus corpos negociados como mercadoria.
Mulheres negras forma vendidas para gerar o prazer da posse.
Mulheres negras ainda hoje têm sua dignidade aviltada no discurso racista e machista do então representante simbólico do Partido dos Democratas, Senador Demóstenes Torres que afirmou que: “os estupros praticados durante o escravismo eram consensuais e responsabilizou as mulheres negras por terem sido vitimas dos senhores-da-casa-grande.”
Um diálogo corroborado, internalizado e naturalizado pela sociedade contemporânea.
Mulheres nas Alagoas de Palmares vivem na zona de extermínio.
E em nome de todas as mulheres, sem rostos, sem partidos, sem poderes sociais. De todas as classes, crença, religiosidade, opção sexual.
Eu sou vadia.
E me chega a sonoridade da voz aguerrida de Clara Nunes em canção com sabor da resistência africana: Não vadeia Clementina. E a mulher versada na resiliência histórica afirma peremptória: Fui feita pra vadiar!
E contra a brutalidade excessiva à vida das mulheres alagoanas, pelo direito à liberdade feminina e direito ao corpo, vamos tod@s nós, homens, mulheres, crianças e tant@s e muit@s à Marcha das Vadias?
Domingo, dia 17 de junho, com concentração no Alagoinhas, no bairro da Ponta Verde , a partir das 10 horas tem a Marcha das Vadias,em Maceió uma iniciativa coletiva, necessária e empreendedora de jovens feministas universitárias, capitaneadas por Thatiane Nicácio, aluna da Universidade Federal de Alagoas.
Domingo é dia de marchar por uma Alagoas em Estado de Emergência!
Você não vai?
www.marchadasvadiasal.blogspot.com

THATIANE NICACIO
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