Atos políticos do partido governista PSUV passaram a ser um espaço de culto da imagem do presidente.
Em um ato do partido para nomear voluntários para a campanha presidencial em Petare, um dos bairros mais populosos de Caracas, a multidão de simpatizantes chavistas era embalada pelo som de tambores e o coro de um 'mantra curativo', alusivo a Chávez.
'Está salvo, está salvo, levanta a mão, levanta a mão', cantavam. As canções foram interrompidas somente quando a voz de Chávez foi ouvida em uma gravação do hino nacional, cantado pelo mandatário em alguma das manifestações lideradas por ele antes da doença.
Analistas ouvidos pela BBC Brasil afirmam que o câncer presidencial afetou tanto o chavismo quanto a oposição.
'Houve um desajuste emocional entre os simpatizantes do presidente, em especial nos setores populares', afirmou Schemel.
De acordo com a consultoria Hinterlaces, houve uma 'radicalização do chavismo' neste período, acompanhada de um incremento de sete pontos em popularidade, entre os meses de junho e julho do ano passado.
Schemel explica que a avaliação 'racional' sobre a gestão do governo foi substituída por um uma percepção 'emocional' e de solidariedade com Chávez. 'Isso explica, entre outras coisas, porque, apesar do descontentamento de parte da população, o presidente tem índices tão altos de aprovação', afirmou.
De acordo com pesquisas realizadas nas últimas semanas, a popularidade de Chávez alcança 55% e o índice de intenção de voto flutua entre 17 e 20 pontos a favor da reeleição do presidente contra a candidatura do opositor Henrique Capriles Radonski.
A 'hiperliderança' de Chávez, criticada inclusive por setores chavistas, se tornou o principal aspecto de incerteza e crise no interior do governo. Com o líder enfermo, se torna ainda mais incerto o futuro do projeto político bolivariano.
Além de ser garantia de unidade das diferentes correntes que formam o chavismo, Chávez também é sua garantia de 'êxito'. Sem ele, uma disputa eleitoral contra a oposição tenderia a ser mais difícil.
A oposição também enfrenta dificuldades devido ao câncer presidencial. Os problemas da gestão chavista levantados por Henrique Capriles durante sua campanha se diluem no mistério do câncer presidencial. 'Fizeram todo esse esforço (eleições primárias) para enfrentá-lo e agora é a doença o centro do debate', afirmou o escritor Alberto Barrera.
Ausente de atividades públicas desde fevereiro - quando anunciou a reincidência do câncer e a aparição de um novo tumor - Chávez deverá inscrever sua candidatura à reeleição na próxima segunda-feira.
De acordo com analistas, seu principal desafio será convencer seus eleitores que terá saúde para governar durante os próximos seis anos. 'Se o povo quiser, ficarei até 2019, até 2021, até 2031, até que o corpo aguente', afirmou Chávez repetidas vezes à seus simpatizantes.
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