A ausência das políticas estruturais, em Alagoas, torna os deficientes impotentes.

21/05/2012 05:37 - Raízes da África
Por Arísia Barros

Era um desses domingos verdejantes com cheiro de luz rasgando a pele dos passantes. Ah! Que saudades das chuvas de maio quando as águas lavavam a alma da cidade e resfriavam a aspereza nossa de cada dia.
Era um desses domingos explosivos de sol e o povaréu com folga do corre-corre diário despia-se dos problemas rotineiros, vestindo a alma com o azul da cor do mar. Como na música.
O domingo convidava para rua e fomos nós eu e minha mãe saborearmos o ar de liberdade . Bem postas em um restaurante na orla de Maceió conversávamos amenidades quando presenciamos uma cena inquietante.
Defronte ao restaurante estava plantado um ponto de ônibus e um homem com uma moça nos braços tentava embarcar no transporte coletivo de domingo.
Os motoristas em um desprezo inumano não abriam a porta. Sem mobilidade nas pernas a moça dependia do homem amordaçado na dependência do transporte coletivo que não estava nem aí para ninguém.
Afinal o que significa SMTT?
A cena nos indignou e entramos em contato com o jornalista e diretor executivo do site do CadaMinuto, o Carlos Melo, para uma possível denúncia e ele interessado falou que enviaria um jornalista para reportar os fatos.
Com a assertiva do jornalista direcionei-me até o homem que carregava nos braços a deficiência da moça e que não conseguia embarcar nos ônibus. Disse-lhe que estava acompanhando, de longe, a situação vexatória e perguntei –lhe se gostaria de fazer uma denúncia a imprensa , afirmou que sim e num átimo de desespero mostrou duas das cinco balas que a moça trazia alojada nas omoplatas.
Mais inquieta, ainda, pedi-lhe que aguardasse e voltei ao meu lugar . Segundos depois o homem que trazia nos braços a deficiência da moça , com as mãos deu-me até logo, pois um ônibus abriu-lhe as portas e ele se foi, carregando a moça e sua história de vida..
A ausência das políticas estruturais, a ausência da redistribuição dos bens sociais em Alagoas torna os deficientes impotentes, e o povo sem a mobilidade social.
Sem elevador ou privilégios parlamentares os deficientes em Alagoas sofrem a inópia do poder. Assim como o homem que carrega nos braços a deficiência da moça ,trancafiada na imobilidade das pernas e cinco tiros no corpo.
O estado conseguiu fazer-nos livre para votar e eleger, mas nos aprisiona com as barreiras estruturais, como uma programação social predefinida e impositiva.
Quem representa os deficientes em Alagoas.
Quem?
 

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