Esse artigo publicamos na Revista Salada Magazine e em nome do 13 de maio, republicamos.
A aceitação do outro amplia o conceito de beleza.
À proposição das quotas para negros e negras no desfile São Paulo Fashion Week (Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado dia 20/06/2009 entre o Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) e a empresa Luminosidade Marketing & Produções Ltda., organizadora do Fashion Week estabeleceu uma cota étnica de 10% para negros, afro descendentes ou indígenas), criou um combustível de inquietação social, tal qual as quotas para a universidade. Afinal visibilizar negros nas passarelas é a exposição máxima da nossa realidade étnica, a quebra da hierarquização das representações estéticas “apropriadas” e da cadeia social que sempre deteve 100% de quotas nas passarelas do poder. 100% de um objetivo inventário de exclusão racial no segundo país mais negro do mundo,fora de Africa, onde convivem tantas, muitas e diversas texturas étnicas.
Os desfiles de moda, segundo dados históricos, nasceram quando entre o final do século XIX e começo do XX, a famosa estilista londrina Lady Duff-Gordon abriu salões de moda em Londres,Paris,Nova Iorque e Chicago tendo como público um seleto grupo da alta sociedade,aristocracia,realeza e atrizes do cinema mudo.
Os elementos descritos definem por si, não só a concepção de moda, mas a personificação clássica da mesma, refletem a mentalidade de suas origens , a fidelidade ao estilo pautado no “status”- classe social e na hierarquização da beleza européia como protótipo a ser seguido, apagando fronteiras da troca entre arte e realidade, tecendo e estabelecendo a linha demarcatória: “não aos ditos diferentes, não- aos-não-iguais” aos padrões traçados. O “belo” e o “não-belo” em duelo artístico.
O Brasil se espelhou na indústria/escola internacional e adequou-se ao modelo único, fruto do exclusivista padrão europeu: homens e mulheres esguias,jovens todas elas e eles, de pele clarissima,uma hegemonia que hoje detém 97% de quota do mercado de trabalho das passarelas brasileiras.
Se a moda acompanha tendências, porque não utilizar esse palco de exposição artística para comprometer-se com as novas tendências políticas de explicitar as semelhanças humanas a partir das suas diferenças?
A aceitação do outro, outros povos, outras mentalidades amplia o conceito de beleza. É bom, cria expectativas, constrói oportunidades para que novos talentos entrem em cena e estejam nesse seleto mercado de trabalho , cria o dialógo visual com o capital humano da diversidade brasileira
A explicitação dessas diferenças e semelhanças produz um refinado painel sobre as possibilidades infinitas que um simples desfile pode oferecer para quem o vive/assiste. A visibilização de diversos elementos étnicos permite que a platéia/sociedade possa entender o mecanismo das linguagens/ heranças étnico-históricas.
A inserção de outros elementos étnicos nas passarelas da moda com certeza trará um salutar debate social sobre políticas universalistas e ao mesmo tempo será um espaço afirmativa da igualdade humana. Continentes diferentes promovendo uma conversa franca,aberta com a produção artistíca, transmitindo a construção de novos palcos cujo elemento visceral é a carpintaria humana que busca soluções contemporâneas de exploração e afirmação das identidades étnicas.
10% de negros e negras, indigenas e afrodescendentes brasileiros inseridos na geografia humana das passarelas da moda brasileira! Eureka!
Se para exercitar a democracia humana precisamos de cotas étnicas, então vamos à elas!