Socializamos um artigo de Olegário Venceslau, escritor, poeta, pesquisador da cultura, sócio da Academia Brasileira de Poesia/ RJ, sócio da Academia Palmeirense de Letras ,Ciências e Artes/AL e Acadêmico de Direito.

CAVALHADA DA CHÃ PRETA

 

Parafraseando o imortal poeta baiano – Castro Alves: “O século é grande. ..no espaço.” Não simplesmente pelos incontáveis dias que o formam, mas sobretudo pela sua grandiosidade e imponência.
A história do torneio popular, comumente conhecido como cavalhada, remete aos tempos de Carlos Magno (século VIII d.C), na representatividade de antigas e ferrenhas guerrilhas, travadas entre Mouros e Cristãos, nas remotas eras da idade média. Uma prova inconteste de que o referido poeta foi felicíssimo em sua abordagem temática.
Reza a história que tais cavaleiros eram conhecidos como os Doze pares de França, destemidos e afamados guerreiros. Devido sua fidelidade e coragem, foram sagrados como: Ricarte de Normandia, Urgel de Danôa, Guarim de Lorena, Guy de Borgonha, Hoel de Nantes, Oliveiros, Gaadeboa da Frigia, Nemê da Baviera, Jofre de Bordeos, Geraldo de Montifér, Roldão.
Com a chegada dos colonizadores portugueses ao Brasil no século XV, com eles aportaram a tradição francesa das cavalhadas. De um lado os cavaleiros com elegantes e pomposos trajes na cor azul, representando os povos cristãos, no lado oposto os mouros – povo pagão europeu, com vestuário não menos elegante fazendo irradiar o encarnado.
Tal folguedo teve seu lugar em terras da Chã Preta, no ano de 1913. Por iniciativa do então folclorista viçosense Joaquim Estevão dos Passos Vilela, que a convite do seu primo Coronel Pedro Teixeira de Vasconcelos veio ensaiar e orientar os filhos deste, à tornarem-se cavaleiros, no antigo engenho Bom Sucesso.
Correram a cavalhada daquela época: Coronel José Teixeira de Vasconcelos, Dr. Francisco Teixeira, Aureliano Teixeira, Julio Teixeira, Izidro Teixeira, Antonio Teixeira de Vasconcelos, Cosme Canuto, Antônio Canuto, Apolinário Teixeira, José Firmino Teixeira de Vasconcelos, José Gomes, Manoel Roberto Brandão, Sergio Fernandes de Aguiar, Simplício Olavo da Silveira, Pedro Torquato Brandão.
Passado quase um século, a cavalhada da Chã Preta mantém viva a tradição herdada de seus antigos cavaleiros. Montados em seus cavalos, com o punhal atado à sua cintura e uma faixa recaída por sobre o ombro na cor azul ou encarnada, passam em desfile nas ruas rumo à matriz de Nossa Senhora da Conceição, para prestarem reverencias a mãe de Deus e dos homens. Toda essa encenação tendo à frente a banda de pífano, que em marcha ascendente conduz o tropel e ao barulho dos foguetórios anuncia o majestoso cortejo dos doze pares de França em terra alagoana.
Merece registro a velha guarda que por anos à fio, não deixou desaparecer esta cultura folclórica de nossa terra: Agripino Albuquerque, Mauro Teixeira de Vasconcelos, Tilgathpilnezer Fernandes Lima, Firmino Teixeira Neto, Benedito Soares de Vasconcelos, Cantidiano Passos, Oséias Teixeira, José Ponciano Silveira, José Souza, Valdemar Holanda, Onildo Teixeira de Vasconcelos, Perciliano, Jorge Rebelo de Vasconcelos, José Maria Teixeira, Cantidiano Teixeira Pimentel.
E atualmente esta manifestação folclórica perdura nas festas de Santa Luzia (Dezembro), do Mártir São Sebastião (Janeiro) e Emancipação Política (Março), tentando preservar uma manifestação cultural centenária.