O empresário Márcio Rapôso, ouvido ontem em mais um depoimento no processo sobre a morte do estudante Fábio Acioli, classificou as declarações da principal testemunha do crime, o garçom Marcos Aurélio Fernandes, como uma “farsa”. Em entrevista ao CadaMinuto, Rapôso garantiu que sua consciência está tranquila e que deseja Justiça.
De posse de cópias do inquérito policial, o empresário apontou fragmentos que demonstram que a testemunha se contradisse em diversos pontos. Segundo a tese de defesa do empresário, na primeira página do Termo de Inquirição de Aurélio, já são nítidas as primeiras contradições. “O garçom diz chegou no Beto’s Bar e demorou cerca de 40 minutos para trocar a camisa de trabalho. No segundo depoimento, ele garante que foi trocar a camisa em outro momento e teria visto os responsáveis pelo assassinato contando o dinheiro do crime. Ele diz ainda que os assassinos teriam contado R$ 15 mil em dois minutos. Tudo fora de sentido. Esse cara tem que ser preso e processado”, questionou Rapôso.
No depoimento à Polícia, a testemunha garantiu que Fábio Acioli teria uma fita que comprometeria o empresário e que o estudante teria extorquido Rapôso. “Eu nunca vi Acioli ou esse garçom. Como é que uma pessoa realiza extorsão e morre com R$ 200 na conta? Tudo muito fantasioso. Ele garantiu também à polícia que ouviu um comentário numa mesa de bar sobre a autoria. Já em outro depoimento, a suposta testemunha garante que ouviu o nome da autoria de amigos de Fábio Aciolli. Mais uma contradição da série de mentiras que essa cara sustenta. Ele nunca lembra nome de ninguém. Essa proteção que ele recebe é injusta. Esse serviço deveria ser para pessoas de bem e honestas. Não para esse menino. Essa farsa acabou após a audiência de instrução dessa quinta-feira”, pontuou.
Ainda segundo o empresário, os depoimentos de Marcos Aurélio se destacam pela riqueza de detalhes apresentados e são, absurdamente, inventados. “Não é preciso ser nenhum doutor para saber que essa riqueza de informações é característica de uma doença. Com essa proteção, ele arrumou uma ‘boquinha vitalícia’. Antes de receber proteção, ele passou no máximo três meses em cada emprego. Aurélioviu uma oportunidade de ouro e agarrou com todos os dentes. É isso! Quero Justiça e esse cara tem que ser preso”, esbravejou.
A testemunha disse ainda, em depoimento à polícia, que o empresário teria dormido na ilha com a vítima no mês de junho após chegar com sua lancha no local. Essa versão também é criticada por Rapôso. “Como é que ele poderia ter me visto na ilha com Fábio se em março do mesmo ano ele fora demitido? É bom lembrar também que nesse período, o estado de Alagoas passava pelo período das enchentes. Logo seria impossível chegar lá pelo rio. É só recordar, é bem fácil. Mais uma mentira desse rapaz que agora está protegido pelo Estado”, esclareceu.
Ao final da entrevista, Rapôso mostrou diversos laudos médicos que informam que no período relatado pela testemunha, ele apresentava problemas de saúde. “Ainda bem que a Santa Casa ainda está em pé. Eu sofri um grave acidente de moto e nesse período passei 10 dias internado. Não poderia fazer qualquer esforço físico, muito menos, subir numa lancha ou fazer sexo. Eu sou homem! Todos os meus parentes, amigos e familiares sabem disso. Na audiência de instrução, soube que meus os telefones de minha residência estão grampeados. E o melhor de tudo: não foi encontrado nada. Na audiência, o juiz Maurício Brêda, informou que eu não seria mais ouvido por não encontrar consistência nas declarações do garçom”, ponderou.
O empresário pediu ainda Justiça e disse que as características do crime apontam para homofobia. “Se for observando o laudo do corpo de rapaz, o médico destaca que ele sofrera diversas coronhadas. Além de outros detalhes que levam nessa direção”, disse.
O Caso
Fábio Acioli era estudante universitário do Centro de Ensino Superior de Maceió (Cesmac) e na noite de 11 de agosto de 2009, seguia de um curso de inglês para casa quando, ao parar numa banca de revistas em Cruz das Almas, foi abordado e colocado na mala de seu veículo pelos seqüestradores.
Eles seguiram com o estudante para um canavial no Complexo do Benedito Bentes, onde jogaram gasolina em seu corpo e atearam fogo. O estudante conseguiu apagar algumas chamas e foi socorrido por populares que acionaram o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). Apesar de lutar pela vida e ser transferido para o Hospital da Restauração em Pernambuco, Fábio Acioli não resistiu aos 80% do corpo queimado e faleceu devido uma infecção generalizada.
A Polícia Civil de Alagoas designou três delegadas para atuar no caso. Porém, a conclusão do inquérito não deixou claro para a justiça quem seriam os mandantes do crime. A polêmica sempre girou em torno da participação de ‘figuras públicas’, o que ocasionou várias manifestações da sociedade alagoana contra a Justiça em busca de uma punição.