Os torcedores que foram ao Estádio Rei Pelé, em Maceió, no último sábado (21), para assistir o Clássico das Multidões, confronto entre CSA e CRB, viveram momentos de terror. Nem mesmo a determinação da Justiça impedindo que os membros de torcidas organizadas utilizassem o seu uniforme não foi o suficiente para evitar o confronto entre torcedores e policiais dentro e fora do Trapichão.

Mulheres, crianças, torcedores e até membros da imprensa foram alvos da ação furiosa do Batalhão de Operações Especiais (BOPE), que utilizou spray de pimenta, bombas de efeito moral, cacetes e até mesmo balas de borrachas, para conter os ânimos dos torcedores.

De acordo com informações de torcedores que estavam nas grandes arquibancadas do estádio, um torcedor conseguiu driblar a segurança e entrou com uma camisa da Torcida Organizada Mancha Azul. Os policiais do BOPE perceberam e foram atrás do torcedor que teve sua camisa arrancada a base de golpes de cacetete.

Um comerciante, que prefere não ter o nome divulgado, revelou que ouve abuso de poder. “Sempre frequentei o estádio e fui porque foi divulgado que a polícia estava preparada. Fui com minha mulher e meu filho pequeno e fomos atingidos por spray de pimenta e cacetete. Foi um absurdo, se queriam impedir a ação do torcedor poderia apenas ter tirado a camisa dele e pronto. Foi abuso de poder”, afirmou o comerciante.

Direção do CSA vai entregar dossiê ao Ministério Público

 

O presidente executivo do CSA, Jorge VI, ficou inconformado com a ação da polícia. “Eu estava no estádio e o que eu vi foi um verdadeiro campo de guerra. Teve muita gente machucada e por sorte, não teve mortes. Estou reunindo um dossiê com vários vídeos e imagens feitos por torcedores para entrar com uma ação no Ministério Público Estadual”, disse Jorge VI.

Ainda segundo o presidente, nem mesmo a determinação do MPE foi capaz de impedir o confronto. “Não foi autorizado nem mesmo a tradicional charanga no estádio. Os torcedores passaram meses preparando um bandeirão e não pode entrar com nada. Não que isso justifique a ação, mas obrigar um torcedor a tirar a camisa à base da violência é um absurdo”.

Quem estava do outro lado do estádio viu a confusão de camarote. Muitos não acreditavam. “Em meio a tantas campanhas onde se pede Paz nas Torcidas, a realidade se contrapõe de maneira chocante. De um lado, os "falsos torcedores" que só vão a campo em busca de briga e não para assistir uma partida, e do outro, a PM e o BOPE de Alagoas que estão totalmente despreparados, e que com ações impensadas acabam por atingir crianças e famílias. Espero nunca mais presenciar isso em minha vida”, afirmou a jornalista Roberta Corrêa.

Ainda segundo a jornalista, nada justificou a violência. “Eu ouvi os torcedores gritando ‘abuso de poder’ e foi pior. Fiquei apavorada e sai antes mesmo de acabar o primeiro tempo de jogo. O que seria uma festa, foi marcado por violência”, frisou a jornalista.

Redes Sociais

Vários torcedores manifestaram opiniões e divulgaram vídeos e fotos. Em alguns comentários vários torcedores reclamaram da ação do BOPE e da PM. “Já chegou batendo em todo mundo” (sic). Em algumas comunidades torcedores estão postando fotos e vídeos para ajudar a esclarecer o que de fato aconteceu no dia.

PM

A reportagem do CadaMinuto entrou em contato com o coronel Gilmar Batinga, que irritado, disse que a imprensa já havia feito o seu julgamento. “Vocês já disseram tudo. Não tenho nada para falar. Na certa foi a polícia que arrancou as cadeiras e jogou no campo”, frisou Batinga.

Indagado sobre a proibição do MPE sobre os materiais de torcidas organizadas o coronel foi enfático. “Agora a polícia vai ser culpada por tudo. A polícia apreendeu um menor com drogas, armas e a imprensa não divulga isso. Estou recolhendo imagens para formalizar um relatório sobre o que aconteceu”, pontuou.

A reportagem do CadaMinuto tentou entrar em contato com o comandante do BOPE, tenente coronel Túlio Roberto, mas ele estava viajando e só retorna a tarde.