Para Betânia  e seu doce amado,

Eles eram dois: um casal alinhavado em uma cúmplice história de vida, lida nos rastros dos gestos, em um sábado noturno na grande Maceió.
Eles eram dois numa emoção única de serem um casal e estavam sentados um ao lado da outra, dando as costas para o alheio do mundo.
Observavam, as mãos entrelaçadas pelas experiências, a cortina azul explodindo ondas de beleza, da praia de Jatiúca.
Eles eram dois numa unicidade de sentimentos, numa contação intima de histórias. Completude.
Acompanhávamos com o olhar aquele casal e as mil possibilidades de interpretar o encontro de almas. Sem palavras ou vírgulas entrecortando interrogações.
Ele e ela, duas pessoas encadeando o amor como se fosse registro de uma travessia permanente, em nome de descobertas especialíssimas.
Sob o céu estrelado, a felicidade partilhada com as pessoas do entorno, inclusive eu, aguçava o sentido e as muitas percepções que o encontro-eu-outro nos traz.
Ele e ela se bastavam, naquele momento ínfimo em que o segundo torna-se eterno. Estavam sós naquele enlevo de renomear a poesia que se veste de palavras.
Ele, um homem negro com uma charmosa barbicha branca, ela uma mulher quase branca tratando o amor do companheiro como alimento raro e indispensável.
É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, diz a música.
Ele e ela, o casal, se fartavam de bordar gestos que contabilizavam as trilhas daquela história que, nós espectadoras anônimas, acompanhávamos com olhares investigativos.
Ele escrevia nas ondas do mar, versos com palavras eternas para a amada, que sem conter a emoção noturna afagava o braço do homem.
O amor estava ali em uma leitura aberta e gestual. Gestos de entrega.
O amor tinha cheiro de encantamento, troca.
E para intercambiar essa história singular escrevi-a em folha de papel.