Um belissimo artigo ( que pesquei no facebook) de uma das mais importantes resistência do Movimento Negro Unificado no estado do Maranhão: Adomair O. Ogunbiyi .

 

Eu, Batista e Simonal


Era um dia de semana, não me lembro qual, mas era 21 de março, isto nos primeiros anos da década anos 80, pegamos um ônibus na praça Patriarca com destino a Lapa, pois ele passaria pela avenida São João, e descemos num ponto próximo à esquina com a alameda Notheman.
Seguimos, apressados, a pé, até a rua das Palmeiras onde se localizava o rádio Excelsior
aonde participaríamos do programa do Osmar Santos. Esbaforidos, preocupados em estar dentro do horário chegamos à portaria nos anunciamos e formos encaminhados para o primeiro andar onde ficava o estúdio.
Lá procuramos a produtora que nos levou até o local da entrevista e fui surpreendido com a presença, no local, de uma pessoa que aprendi a respeitar e já era fã há muito tempo. Sempre vibrara com Sá Marina. Sonhara apaixonado ao som de “O amor está no ar” (não sei ao certo, passaram-se tantos anos, mas cantada em dueto com Johnny Mathis). Perturbara meus amigos tocando repetidas vezes, ou pedindo insistentemente que tocassem “Embrulheira” em nossas festinhas na Vila Carrão ou na Ponte Rasa, em São Paulo. Nos vestíamos de azul para nossa sorte, também mudar, conforme dizia a música. E, dentre tantas outras pérolas musicais me identificava com “Tributo a Martin Luther King”, muito antes de estar militando no Movimento Negro Unificado - MNU. Sentado em dos cantos do estúdio eu vi, ao vivo e em cores, Wilson Simonal. Discretamente, cumprimentamo-lo com um aceno de cabeça e olhares. Há muita cumplicidade negra nisso tudo. O apresentador do programa, naquele dia, foi Fausto Silva (o Faustão), pois o Osmar, muito requisitado, estava viajando.
Fomos à rádio para divulgar uma atividade relativa ao dia 21 de março - Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, data instituída pela ONU, em 1963, para lembrar o Massacre em Sharpville, na África do Sul, ocorrido no dia 21 de março de 1960. Enquanto falávamos da importância da data e convidávamos a população para participar do ato na Praça Dom José Gaspar, na frente do prédio onde se localizava o consulado da África do Sul, éramos observados atentamente por Wilson Simonal que notávamos concordava com nossa postura, sem verbalizar, mas demonstrava seu assentimento através da linguagem corporal. Sentíamos.
Terminada a entrevista fomos cumprimentá-lo e ele ratificou a necessidade de lutarmos contra o racismo e suas manifestações: o preconceito racial e a discriminação racial. Eu saí do prédio exultante por ter pela primeira vez em minha vida podido cumprimentar Wilson Simonal, e fazia algumas considerações sobre os problemas enfrentados por ele. Dizia ao Batista, coordenador do Movimento Negro Unificado – MNU, que Simonal era uma vítima do sistema (as classes dominantes) que é racista e não tolerara a ascensão de um negro considerado um dos maiores Showman do mundo.
Não fazia sentido o massacre que se fizera e faziam contra ele. Se avaliássemos corretamente as circunstâncias poderíamos encontrar inúmeros casos similares onde brancos estavam envolvidos, naquela época, no entanto, não foram massacrados de forma tão dantesca como o fizeram, os mais diversos segmentos da sociedade – de esquerda, passando pelo centro, e chegando até a direita.
Não conseguiram provar nada contra ele (mas somos suspeitas antes de qualquer coisa), no entanto, os meios de difusão cultural, a mídia como um todo continuara fechando as portas para ele. Ele e todos nós negros continuávamos como “mortos sociais” neste país que ajudamos construir.
Contudo, fiquei muito feliz ao saber que ele continuava na luta cantado em
apresentações fora do país, principalmente, no México.
Wilson Simonal viajou !
E, ficamos com um gosto amargo da injustiça na boca, pois, não lhe deram direito de defesa. Porém, um ditado Yoruba diz que: ‘O tempo não gosta que se faça nada sem ele”. A verdade prevalecerá!
Passados anos tenho a grata surpresa de poder relembrar os sucessos de Wilson Simonal (A Bossa e o Balanço, Série Aplauso) vibrar com as jóias musicais de Wilson Sinoninha (Volume 2 e SamalandClub) e Max de Castro (Orquestra Klaxon; ainda não consegui encontrar o Samba Raro).
Após tudo isso constatamos então que a letra da música é profética porque diz: “cada negro que for/ mais um negro vira/ para lutar com sangue ou não/ com uma canção também se luta, irmão”. Agora são mais dois. Simoninha e Max são forças raras no mundo musical da atualidade, nos inspiram e resgatam, modernamente, todos os sons da alma.
São guerreiros lutando revolucionariamente através das letras das canções.
Ah! Barika! Parabéns!
Ase! Força!