O menino tem a cabeça feridenta e uma alma que sangra trancafiada no abandono social.
O menino é pequeno e traz acumulada na pele toda sujeira do mundo.
É áspero o olhar que a pequena figura lança ao mundo.
Uma mistura infalível de frustração e raiva. O menino com um sorriso partido nos lábios tem uma percepção distorcida, que contabiliza anos e anos de descaso, do que é humanidade.
Para o mundo do poder o menino é feito objeto ordinário, com sua cabeça feridenta e seu olhar pidão que cobiça dignidade de vida.
O menino é forasteiro nos espaços da cidadania e diariamente busca permanecer vivo com as migalhas do nada que o poder lhe concede antes e durante as eleições iguais e diversas.
O menino faz parte de um multidão anônima de pequenas crianças que vivem entre os escombros das lembranças de uma ex-quase-família e a praga da pobreza que infestou de discórdia a convivência.
A vida da criança é soterrada pela hierarquia alagoana como marca poderosa da desigualdade social.
O menino vive uma vida marginal, ainda sem drogas, mas enredado em fartos abismos de isolamento que identifica e manipula pessoas, a partir de suas vulnerabilidades.
Amordaço pela miséria a criança vive no olho do furacão, como herança mórbida de um povo despolitizado.
Ainda somos escravizados satisfeitos.
Até quando?

Raízes da África