O menino morreu ontem, aos 13 anos, com uma bala que esfacelou o cérebro o cerebelo e todos os sonhos de futuro.
O menino morreu ontem e como todo menino pobre, preto morador das periferias da grande Maceió, já foi esquecido, como outros tantos iguais a ele que não têm status de cidadão ou habitam os espaços silenciosos da invisibilidade social.
O sangue do menino, que morreu ontem, ainda jorra nas muitas esquinas da grande Maceió, a terceira cidade mais violenta do mundo e cobre de vermelho as ruas de Alagoas, o estado com a maior taxa de mortandade da população jovem e preta das terras de Cabral, agigantando essa onda de permissividade e invisibilidade do extermínio da população negra.
Os meninos e jovens em Alagoas vivem o presente sem a certeza do amanhã. Faltam-lhes perspectivas, sonhos, escola, saúde, políticas públicas contra o apartheid do racismo na extrema branquitude das terras de Zumbi, Aqualtune e milhares de guerreir@s negr@s.
O X Ígbà Seminário de Conversas Afro-Internacionais Im-Expressão Afrodescendente nas Américas que celebrou o 21 de março, Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, aconteceu em Maceió-Al, nos dias 19, 21 e 22 e dentro da programação do Seminário tivemos uma Conversa Urgente, denominada: “Existe uma Política Nacional contra o Extermínio da Juventude Negra? Uma abordagem sobre direitos humanos”.
Estiveram a frente da discussão a Sra. Deise Benedito representando a Secretaria Nacional dos Direitos Humanos e o advogado alagoano Sr. Pedro Montenegro.
A exposição de ambos despertou inúmeros questionamentos entre os jovens de faculdade privada presentes ao Seminário e ao perguntarmos a Sra. Deise Benedito o porquê da apatia nacional em relação à calamitosa situação do estado ela nos respondeu que urge que a sociedade organizada estabeleça mobilização e crie demandas.
E aí perguntamos: Se o Mapa da Violência 2012, os Novos Padrões da Violência Homicida no Brasil é um criterioso estudo cientifico que aponta dados, modos e maneiras e alerta que Alagoas é o estado calamidade pública no quesito genocídio da população jovem e negra, então porque do contrito silêncio estatal. E o silêncio social?
Conclusão obvia: o povo preto em Alagoas é invisível.
Ministra Maria do Rosário é hora de fazer valer os direitos constitucionais da população jovem e negra, em Alagoas.

O menino filho único e temporão morto com uma bala que estourou seus sonhos foi enterrado em terras frias da solidariedade humana e com ele a continuidade natural da família.
Alagoas está se tornando um estado cemitério!
Até quando?