Estamos vivendo um tempo estranho, abduzidos pela materialidade de cada-um-por-si-o-dinheiro-é-todo- meu, esquecemos da espiritualidade que nos rege.
Nesses tempos do trato de gentes como descarte social, ainda é triste constatar que situações como as relatadas abaixo sejam uma constante.
Estamos perdendo nossa humanidade? O espírito de grupo?
Acometido de uma rara e degenerativa doença, a ataxia inflamatória (cerebelite), descoberta em 2000 após um mal-estar antes de uma apresentação, João Fernandes da Silva Filho, o Cacik Jonne, ex-guitarrista da banda Chiclete com Banana, Jonne, hoje com 44 anos – 20 dos quais dedicados à banda –, vive recluso, no apartamento da família, no bairro da Pituba. Metade da aposentadoria por invalidez é destinada à compra de medicamentos e ao tratamento fisioterápico, além de fonoaudiólogo. “A doença nunca me tirou a vontade de viver. Eu sei e acredito que Deus vai reverter esse quadro, pois Ele é meu maior médico”, afirmou Jonne numa mensagem veiculada em seu site cacikjonne.com.br e ilustrada por um atestado médico que detalha a doença e o tratamento.
'Quem não tem sorte tem que ter atitude'
Chamo-me João Fernandes da Silva Filho, sou guitarrista e compositor e mais conhecido como Cacik Jonne. Fui, durante quase 21 anos (1980 a 2001), guitarrista da banda Chiclete com Banana e construtor de significativa parcela da história da música baiana. Portador de doença- Ataxia Cerebelar- venho sofrendo limitações progressivas de movimentos no decorrer dos últimos 8 a 10 anos, um problema de equilíbrio no cerebelo. Não pude mais exercer minha profissão. As condições para movimentar-me e trabalhar foram ficando cada dia mais difíceis. Em conversa que mantive com os dirigentes da banda, ficou acertado, verbalmente, que sairia da banda, mas ela assumiria o pagamento de meus honorários como se estivesse tocando e depois faríamos um acordo.
Como se tratava de um acordo justo aceitei-o. Porém, o compromisso verbal não foi cumprido integralmente, porque os honorários prometidos foram sendo reduzidos gradativamente. De forma integral o acordo foi cumprido apenas no período de junho a dezembro de 2001 a janeiro/2002. A partir do carnaval de 2002 os honorários começaram a sofrer cortes inexplicáveis. Vale ressaltar que nesse período tentei inúmeros contatos com a Banda, mas todos foram em vão.
Movido pela necessidade e pelo propósito de ter meus direitos restabelecidos e respeitados, busquei a Justiça. Em dezembro de 2002 foram instaurados até 2005.Ressalto que a minha saúde, com o passar do tempo, foi ficando cada vez mais comprometida. O quadro agravou-se e as seqüelas da doença atingiram minha visão, comprometeram minhas articulações e afetaram meu andar. passei a necessitar de tratamentos mais especializados e onerosos. Mas, como poderia fazê-los se não dispunha de recursos financeiros para esse fim?. Meus antigos parceiros permaneceram indiferentes e irredutíveis à esta situação, estranhamente, o processo foi julgado àrevelia, e o mais grave é que eu, vítima, autor da ação e principal interessado na agilidade do julgamento e do resultado, não soube dessa audiência. Meu advogado recorreu da sentença ao Tribunal Superior do Trabalho, TST, onde o processo foi arquivado. Atualmente estou sobrevivendo graças à pensão do INSS e da ajuda de amigos. Tudo o que almejo é ter o valor de meu trabalho artístico de mais de 20 (vinte) anos, interrompidos por motivos alheios à minha vontade, reconhecido financeiramente, a fim de que possa custear, sem favores, meu oneroso tratamento médico-hospitalar. É justo que alguém que colaborou de forma íntegra a uma banda e a uma história musical baiana sofra este processo de constrangimento? 'pois pra os ricos nada pega' não deixarei de falar até que a morte me leve já que sei que a justiça dos homens pode estar perdida, mas a de Deus não questiono, pois acredito, cedo ou tarde, Ela vencerá'.
Cacik Jonne
• Com informações http://www.caririfoco.com