Só pedir perdão não basta!

09/02/2012 14:29 - Raízes da África
Por Arísia Barros

A violência estrutural cometida pelo estado ou a igreja não pode e não deve ficar silenciada ou ocultada.
O pedido de perdão oficial ,seja da igreja ou do estado é um gesto com possibilidades e responsabilidades históricas de repensar o autoritarismo das instituições a essas vítimas da violência estrutural.
Mas, só pedir perdão não basta, é preciso que, com base jurídica, as instituições criem condições necessárias, para que o gesto de pedido de perdão seja um reconhecimento oficial de que é urgente suturar as feridas abertas pela violência com atos de reparação política e moral às vítimas.
Como bem o diz a irlandesa Marie Collins, na matéria publicada pelo IG São Paulo: Só pedir perdão não basta!

Vítima de padre pedófilo conta seu drama em simpósio do Vaticano

A irlandesa Marie Collins, abusada aos 13 anos por sacerdote em hospital, diz que ‘pedir perdão pelos padres pedófilos não basta’
Marie Collins, de 65 anos, explicou aos representantes de 110 conferências episcopais e aos superiores de 30 ordens religiosas reunidos na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, que foi abusada pelo padre do hospital em que esteve internada aos 13 anos.
"Mais de 50 anos se passaram e é impossível esquecê-lo, nunca poderei escapar disso", disse Marie, ao lembrar as noites de terror que sofreu no hospital quando o padre, que, segundo ela, "era especialista em abusar de menores", entrava em seu quarto, a tocava, fotografava seu corpo, entre outros abusos.
A vítima explicou que o fato do agressor ser um padre causou uma grande confusão em sua mente, "pois as mãos que abusavam do meu corpo à noite eram as mesmas que me ofereciam a sagrada hóstia na manhã seguinte".
Acompanhada por uma psiquiatra durante seu depoimento, Marie acrescentou que em vez de se voltar contra a religião, se voltou contra ela mesma, se sentia suja e se afastou de sua família e amigos, evitava o contato com eles convencida de que era "uma má pessoa".
Mesmo tendo se casado aos 29 anos e tido um filho, continuou sem conseguir enfrentar a vida e sofrendo depressão e ansiedade. A primeira vez em que falou dos abusos foi com 47 anos. Foi a um médico e ele recomendou que advertisse à Igreja sobre esse padre. Marie falou com um padre de sua paróquia, mas ele se negou a dar o nome do agressor.
"E pior, me disse que o que tinha acontecido era provavelmente minha culpa. Essa resposta me destroçou e fez com que ressurgissem em mim todos os velhos sentimentos de vergonha", narrou em meio a um silêncio sepulcral e expressões comovidas por parte de quem assistia.
A irlandesa contou que depois disso ficou mais dez anos calada, foi internada diversas vezes, até que começaram a sair na imprensa denúncias de outros casos, e compreendeu que o homem que tinha abusado dela poderia ter feito o mesmo com outras vítimas. Então, decidiu que tornaria seu caso público a fim de proteger outras crianças.
Ela escreveu ao arcebispo de sua diocese e denunciou o pedófilo, mas passou – segundo explicou – os dois piores anos de sua vida, pois o padre que tinha abusado dela estava sob proteção de seus superiores, e o deixaram durante meses em seu Ministério paroquial, encarregado de dar aulas às crianças que se preparavam para a primeira comunhão.
Ela se queixou que foi tratada como se estivesse contra a Igreja e denunciou que a investigação policial foi obstruída e os laicos enganados. No final, o agressor admitiu sua culpa aos superiores, mas segundo Marie, a prioridade dessa igreja local era "proteger o bom nome" do padre perante à sociedade.
Marie estava angustiada, mas continuou com sua luta até conseguir que seu agressor fosse julgado e preso. Nesse momento sentiu que sua vida começava a mudar e mesmo decepcionada com a Igreja começou a trabalhar com sua diocese e outras igrejas da Irlanda para melhorar sua política de proteção às crianças.
"Pedir perdão pelos atos dos padres pedófilos não basta", disse ela, que foi a única vítima convidada ao encontro. Marie afirmou que as diretrizes da Igreja Católica para acabar com a pedofilia cometida por padres precisam ser apoiadas por penalidades aos bispos que não a implementarem.
Para ela, regras sem sanções são ignoradas com facilidade e os casos são varridos para debaixo do tapete, permitindo que os pedófilos continuem a molestar crianças. "Espero que internamente possa haver alguma punição eclesiástica para um bispo que não siga as diretrizes", disse a ativista.
"É óbvio que há a lei civil, mas estou falando mais sobre o lado da igreja."
O Vaticano enviou uma carta aos bispos no ano passando dizendo que precisam transformar em prioridade global o combate ao abuso sexual de crianças por padres e que toda diocese deve formular diretrizes próprias em linha com a lei penal local.
O caso de Marie é um dos 4 mil casos de pedofilia cometidos por padres que chegaram à Congregação para a Doutrina da Fé nos últimos dez anos, segundo disse na segunda-feira seu presidente, o cardeal William Levada, na abertura do simpósio.
O cardeal ressaltou a necessidade de a Igreja colaborar com as autoridades civis, destacando que o abuso sexual de menores "não só é um delito no direito canônico, mas também é um crime que viola as leis penais na maior parte das jurisdições civis".
O papa Bento 16 disse em comunicado que a cura das vítimas deve ser a "principal preocupação" e que isso deve ocorrer junto a uma "profunda renovação da Igreja em todos os níveis".
Nos últimos anos, centenas de casos de abusos contra menores foram denunciados nos Estados Unidos, Irlanda, Alemanha, Bélgica, Áustria, Itália, Austrália, Malta e Holanda, entre outros países.
Com EFE, AFP e Reuters
 

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