"Não éramos amigos, mas nunca teve ódio", diz Talvane sobre Ceci Cunha

17/01/2012 14:03 - Polícia
Por Redação
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Atualizado às 17h32.

Último acusado na morte de Ceci Cunha a prestar depoimento, o ex-deputado Talvane Albuquerque, está sendo ouvido pelo juiz André Granja. Na segunda parte da oitiva, Talvane relatou um encontro que teve com o pistoleiro Maurício Guedes, conhecido como Chapéu de Couro. Talvane contou que foi até Chapéu de Couro por ser amigo da família dele, sendo inclusive médico da mãe dele.

“Ele (Chapéu de Couro) era filho de uma grande amiga, me dava muito bem com a família dele, atendia como médico e político. Uma irmã dele mandou me chamar e eu fui encontrá-lo em Juazeiro (BA). Eu até achei que era algo relativo a mãe dele. Nos encontramos em um posto de gasolina e fomos almoçar”, disse Talvane.

O ex-deputado colocou também que Chapéu de Couro fez alguns pedidos, como uma internação para a filha e a mãe, uma ajuda a um filho que estava preso em Goiás, dinheiro e falou no nome do deputado Augusto Farias.

“Eu não tive a firmeza necessária, ainda mandei dinheiro para ele. Eu sabia que ele queria dinheiro. Nessa conversa, falamos também sobre um jornal e o fato de o Luiz Dantas ter dito que iria publicar denúncias sobre mim. Sobre isso, eu gravei uma conversa e levei na Polícia Federal. Depois disso não sofri mais esse tipo de ameaça”, disse Talvane. O acusado de ser o autor intelectual de mandar matar Ceci colocou ainda que foi informado que Luiz Dantas poderia assassiná-lo.

Durante a oitiva, foi exibido um áudio, no qual Talvane e Chapéu de Couro teriam arquitetado a morte de Augusto Farias. Na ligação, o pistoleiro usa códigos e se refere aos assassinos como “litros de mel”. Talvane disse que queria dar um “olé” em Chapéu de Couro e não atendeu outras sete ligações feitas por ele. No contato telefônico, Talvane pediu que o pistoleiro retornasse a ligação às 10 horas do dia seguinte.

“Esse áudio foi manipulado, sofreu alteração. Inclusive, eu acho que algumas questões ficaram comprometidas. Eu tinha problemas pessoais com o delegado Bergson Toledo, da Polícia Federal, e acredito que isso possa ter contribuído”, colocou Talvane.

Indagado sobre declarações dadas por Chapéu de Couro em depoimento, Talvane disse que o pistoleiro “mentia muito”. O ex-deputado contou ainda que uma “boataria” tomou conta de Arapiraca dando conta de que ele mandaria matar qualquer deputado para assumir uma vaga.

“O Chapéu de Couro virou o presidente do inquérito, tudo o que ele falou virou verdade. O Nonô, o Cordeiro e o Augusto Farias nem foram à diplomação com medo desses boatos”, colocou.

Perguntado pelo magistrado se possuía inimizade com Ceci, Talvane foi enfático ao dizer que os “problemas” entre os dois eram apenas de ordem política. “Ela fez o parto de uma das minhas filhas. Éramos competidores e não éramos amigos, mas nunca teve ódio”, afirmou.

Ceci e Mano

Indagado pelo juiz sobre a ligação entre Ceci Cunha e o ex-governador Manoel Antônio Gomes de Barros, Talvane relatou o acordo feito entre os dois para a disputa de uma eleição. “Inicialmente a Ceci seria a governadora e o Mano, o vice. Inclusive foram feitas consultas na Justiça Eleitoral para saber se havia alguma objeção para isso. Mas, depois de umas negociações,a Ceci, acredito eu que contra a vontade, aceitou ser a vice. E acredito que ela tenha obtido vantagens, já que ninguém sai de uma situação favorável em troco de nada. Não adianta dizer que só tem certinho na política”, disse o acusado.

Talvane, perguntado pelo magistrado, se haveria algum político que teria intersse em atribuir o crime a ele, o ex-deputado afirmou que uma sucessão de coisas o prejudicou. "É uma peleja de Deus contra Golias. Fora a acusação do estado, há a mídia e os familiares da vítima. Nunca pensei, nem pedi para ninguém matar a deputada Ceci Cunha. Se eu soubesse desse plano teria avisado a ela", colocou.

Granja foi adiante e indagou o ex-parlamentar: "O senhor acredita que o então governador Manoel Antônio Gomes de Barros teria interesse em matá-lo?". Talvane não respondeu diretamente, mas disse que fez oposição a Mano na eleição em que o governador perdeu o mandato para Ronaldo Lessa.

Emprego

O ex-deputado Talvane Albuquerque disse, na primeira parte do depoimento prestado ao juiz André Granja, que foi demitido do cargo de médico que ocupava em um hospital da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), em Paulo Afonso (BA), após a exibição de uma matéria no Fantástico, da Rede Globo. A reportagem mostrou a trama para assassinar a deputada Ceci Cunha.

Talvane relatou esse fato ao magistrado ao ser indagado sobre quais atividades profissionais exercia atualmente. “Temos dois hospitais em Arapiraca e eu trabalhava em Paulo Afonso, mas a Chesf, apesar de já saber desse processo, achou que era um problema, então quando eu estava em Maceió fiquei sabendo que fui demitido. Tenho dois outros empregos, eu acho ainda, em Canindé do São Francisco (SE) e Floresta (PE).
 

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