O que pensa o Ministério da Justiça sobre o genocídio da população negra em Alagoas?

05/01/2012 10:13 - Raízes da África
Por Arísia Barros

Alagoas é o estado campeão em enfileirar caixões que sepultam vidas precoces, de jovens, “os filhos dos outros”, isolados das benesses da vida, encarcerados em espaços marginais, exilados das políticas públicas e do exercício real da cidadania, finalmente assassinados pela inoperacionalidade do sistema.
E a grande maioria dos sepultamentos em caixões de madeiras toscas é de  meninos negros e pobres, com mães urrando, em silêncio, a dor em pedaços nos panos encharcados pelo descaso social.
Pobre e negro não é gente, minha filha - repete a mãe espalhando as concepções introjectadas na colônia da escravatura.
É uma guerra civil?
O governo do estado de Alagoas recebe hoje, dia 05 de janeiro, no Palácio República dos Palmares, a cúpula do Ministério da Justiça para discutir a questão da virulenta guerra civil (?) instalada, no estado, devido ao alto índice de criminalidade, o maior no cenário nacional.
Um dos objetivos do Governo do Estado é justamente fazer com que a Força Nacional instale sua base no Nordeste em Maceió, o que representaria um reforço importante no combate ao crime em Alagoas- diz a nota da página oficial do governo.
Repressão?
O combate a criminalidade na República dos Palmares vai bem mais além do que viaturas, armas e a “instalação” da Força Nacional e não pode e não deve ser uma ação de uma comitiva do Ministério da Justiça. Exige ações múltiplas e integradas.
O Ministério da Justiça como parceiro na construção do “Mapa da Violência 2012- Os Novos Padrões da Violência Homicida no Brasil” deveria deixar como exercício de ação articulada, para o estado de Alagoas a realização de uma prévia e acurada leitura ao citado estudo que analisa os últimos 30 anos de violência homicida no país e verifica profunda mudança nos padrões históricos. Aponta as principais características da evolução dos homicídios em todo o país: nas 27 Unidades Federadas, 27 Capitais, 33 Regiões Metropolitanas e nos 200 municípios com elevados níveis de violência..
Segundo o Mapa : “(...)Voltando à classificação por raça ou cor das certidões de óbito, podemos observar que, mesmo com grandes diferenças entre as Unidades Federadas, a tendência geral desde 2002 é: queda no número absoluto de homicídios na população branca e de aumento na população negra(...)
A região que se destaca por seus altos índices de vitimização é a Nordeste, onde estados como Alagoas apresentam uma íngreme escalada desde 2002 para, em 2008, ostentar uma taxa de vítimas negras 11 vezes maior, proporcionalmente, ao das vítimas brancas.”

Ao defrontar-se com o amplo panorama que permite identificar e localizar as vulnerabilidades do estado, as instâncias governamentais terão oportunidade de “conhecer” e “reconhecer” o problema com suas especificidades e a partir daí criar estratégias coordenadas e integradas para coibir o racismo institucional e estabelecer o direito à vida para a população, na sua maioria jovem, masculina e de pele preta.
Não se pode confrontar um problema ignorando realidades e uma delas é a existência forte e letal do racismo institucional nos espaços dos poderes alagoanos, delimitando áreas.
O racismo institucional é aquele que ignora as estatísticas cor e raça , generalizando-as como números da pobreza econômica.
O genocídio da juventude negra em Alagoas é fato, e o que pensa o Ministério da Justiça sobre isso?
Os jovens de pele preta e pobres mortos em Alagoas são dessemelhantes e desiguais.

 * Com informações do Mapa da Violência 2012

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