Ivan Fernandes Lima

03/11/2011 07:29 - História dos Ambientalistas
Por Redação
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Nascido na pequena Murici - Alagoas, em 27 de dezembro de 1927 o professor Ivan F. Lima era um apaixonado pelas belezas naturais do seu Estado. Filho de José Fernandes Lima e Florinda F. Lima. Era casado com Dona Zuleide Cavalcanti, teve cinco filhos: Antônio, Ivan José, Francisco, Delvane e Vanleide. Assim como outros expoentes da geografia nacional como o professor Manuel Correia de Andrade, Milton Santos, entre outros, o professor Ivan Fernandes Lima também era formado em direito, curso este realizado na antiga faculdade de filosofia de Pernambuco em 1952, porém como os demais geógrafos citados, a geografia era sua grande paixão, tanto que nunca exerceu nenhuma atividade como bacharel em direito. Também colou grau na mesma faculdade, hoje Universidade Federal de Pernambuco no ano de 1957 em geografia e história, fazendo a licenciatura assim como o bacharelado.

Trabalhos:

Durante sua vida o professor escreveu mais de cem trabalhos, entre artigos técnicoscientificos, notas em jornais e livros. Os livros mais conhecidos são Geografia de Alagoas e Maceió a cidade restinga: contribuição ao estudo geomorfológico do litoral alagoano. Estes livros apesar de esgotados continuam essenciais para quem deseja conhecer alagoas. Na época da primeira publicação de Geografia de Alagoas, há mais de 45 anos, Alagoas tinha pouco mais de um terço da população de hoje, portanto, os dados dos capítulos sobre a geografia humana estão desatualizados. No entanto, uma análise dos recursos naturais e humanos direcionada aos estudantes secundaristas é uma lembrança de como livros didáticos voltados para temas locais já alcançaram um padrão de qualidade invejável.
O livro Geografia de Alagoas foi resultado de pesquisas realizadas pelo professor Ivan durante cinco anos e em 1965 o livro foi muito utilizado por diversas escolas em alagoas, editado três vezes, hoje é livro raro de encontrar. O segundo livro citado, não menos importante (Maceió a cidade restinga: contribuição ao estudo geomorfológico do litoral alagoano), para se ter uma idéia é prefaciado na época pelo então presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, professor Aziz Nacib Ab´Saber, hoje professor emérito da Universidade de São Paulo. Nas palavras do professor Ab´Saber, o professor Ivan Fernandes Lima chegou a atingir um nível de erudição geo-científica raramente encontrado em estudos similares. Igualmente importantes são os livros Ocupação Espacial do Estado de Alagoas; O Problema Geo-Sócio-Econômico-Político do Sururu Alagoano; Estudos Geográficos do Semi-árido Alagoano: bacias dos rios Traipu, Ipanema, Capiá e adjacentes; além do livro, Palmares: Uma Geografia da Liberdade; este último não sendo publicado até os dias atuais. Este livro é baseado em extensa pesquisa de campo e vasta bibliografia, produção que impressiona pela riqueza de detalhes com a qual descreve o local exato onde travou seu último combate o valoroso Zumbi dos Palmares. Segundo o professor Ivan, o logradouro se encontra no município alagoano de Viçosa, no sumidouro existente no rio Paraíba do meio, próximo a serra dos dois irmãos e a cachoeira que leva o mesmo nome.
Nas décadas de 70 e 80, o professor participou como coordenador geral de regionalização de trabalhos realizados pelo Instituto de Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente, órgão vinculado à hoje Secretaria de Planejamento. Os cadernos Fundamentos Geográficos do Meio Físico do Estado de Alagoas e Evolução Urbana e Comportamento da População de 1977, são de singular importância para um maior entendimento dos aspectos físicos do estado de alagoas. Um trabalho em co-autoria denominado Diagnóstico Sócio Econômico do Estado de Alagoas também merece destaque. O geógrafo Ivan Fernandes Lima era sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas desde 1968, muitos são os registros de artigos e notas no antigo jornal de Alagoas.
Em um dos textos o professor comenta a respeito da fundação do Conselho Estadual de Geografia. “[...] Não penso se existe de minha parte qualquer mérito pela criação do Conselho Estadual de Geografia, mas uma satisfação me atinge - É a de que nossa Terra tem um órgão desta ciência que faz a noção mais clara das bases de todos os tipos de estudos, quando se inicia um trabalho qualquer”. Nota-se que naquela época, lá pelos idos de sessenta e sete com a criação do Conselho o governo inaugurava a oficialização da Geografia de Alagoas, numa época em que as bases da infraestrutura dependiam do conhecimento da Geografia. Infelizmente hoje o trato do governo dado à Geografia é outro. Um homem como o professor Ivan Fernandes não poderia ficar esquecido pela sociedade alagoana, um homem que em 1962 já chamava a atenção para a recuperação das nossas lagoas e que em 1966 e 1967 publicou uma série sobre o drama do Sururu Alagoano, prevendo um futuro de escassez.
A Igaçaba achada em Paripueira; A herança deixada pelos índios à nomenclatura alagoana; As zonas fisiográficas de alagoas; Aspectos geográficos do amianto nas alagoas; Considerações geográficas da caatinga alagoana; Geografia regional; entre tantos outros trabalhos, são obras desse magnífico alagoano que poucos conhecem na atualidade.

Muitos são os trabalhos importantes de Ivan Fernandes Lima, merecendo destaque também, Geografia a serviço do homem, artigo publicado no Boletim Geográfico número 133 do Conselho Nacional de Geografia, além de Nossa Terra Alagoana, Programa de geografia na escola secundária destinado para os alunos de 2ª e 4ª série. Ainda escreveu um trabalho Etnográfico chamado Estudo geográfico do Sururu Alagoano, além de um trabalho voltado para o público jovem da época chamado Meu mundo de criança.
Colaborador e conferencista do Projeto Rondon, realizou vários estudos sobre a eletrificação rural do Estado de Alagoas. Apresentava constantemente ao Governo relatórios sobre assuntos de interesse comum, como o relatório sobre a erosão do canal do Calunga e vales dos rios Tatuamunha, Brocotó e Pau Amarelo. No século XX em se tratando de Etimologia Alagoana, ninguém superou o professor Ivan Fernandes Lima, há trabalhos citando o professor em universidades americanas e na França especialmente. Foi o professor quem identificou com precisão invejável os pontos culminantes e extremos de Alagoas, numa época em que ainda não se usava o Global Positioning System (GPS) ou Sistema de Posicionamento Global. Tal façanha foi confirmada pelo Serviço Geográfico do Exercito, que era quem realizava tais trabalhos na época.

Com a mão na massa:

O professor Ivan foi chefe de excursões da Secretaria de Planejamento, foi coordenador da SUDENE em Alagoas, foi Secretário executivo do Conselho Estadual de Alagoas e prestou diversos serviços a PETROBRAS. Muito respeitado nos vizinhos Estados de Pernambuco e Sergipe e reconhecido por sua dedicada atuação junto aos trabalhos de campo na geografia, donde se pode verificar a importância de seus relatos, o professor Ivan F. Lima conhecia como poucos todos os municípios de Alagoas.

Uma frase do professor dita em sala de aula ficou famosa e marca certamente sua brilhante estória: “Se árdua é a missão, o ideal geográfico nos reanima”.

Geografia e poesia:

O professor Ivan era leitor voraz de todos os tipos de livros e gostava em algumas ocasiões de fazer poesia como à intitulada Restinga de Maceió.
Viver em ti é sempre flutuar,
Nas águas turvas da lagoa morna,
Ante os murmúrios lânguidos do mar,
Sob esse coqueiral que a tudo adorna.
Entre o mar e a lagoa tu flutuas,
Ao léu das ondas e das águas mansas,
“Língua de terra”, clara à luz das luas,
E quente ao sol do céu que não alcanças.
Foram os ventos vindos do nordeste,
Que te fizeram longa até a “barra”,
Onde o “pontal”, furando a água, investe.
Índios que viram teu primeiro viço,
Deram-te o nome que à forma te amarra:
- Maçai-o-g- “o que tapou o alagadiço”.

Em 2008 a revista Geográfica Acadêmica publicou um artigo intitulado, “O Hermeneuta da Geografia Alagoana: Homenagem ao Geógrafo e Professor Ivan Fernandes Lima”. Apesar de ser detentor de vasto conhecimento não só em relação à geografia, o professor era homem simples, de caráter humilde e muito religioso. Hoje, além de uma rua na cidade de Maceió levar seu nome, a biblioteca do Instituto de Meio Ambiente do Estado - IMA, tem como forma de homenageá-lo seu nome na fachada.


Nosso intuito, além de buscar chamar a atenção dos jovens estudantes locais e também dos profissionais que se preocupam com Alagoas é o de estimular o interesse pela pesquisa.
Acreditamos no poder e no valor do legado do professor e geógrafo Ivan Fernandes Lima, acreditamos mais ainda, que é deste legado que poderemos buscar o conhecimento que nos impede de desenvolver com sustentabilidade ações mais acertadas no presente.

Viva a Geografia Alagoana!

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