O menino franzino é preto, mas, é obesa a violência que o atinge.
O braço da lei agride afrontosamente o bocadinho de amor próprio que ainda guardava entre o estômago vazio e a alma espancada pelo descaso dos passantes alheios a sua dor-da-não existência.
 Contam a boca miúda, que o menino entre 10 e 11 anos, já “mexe-com-drogas” por isso é exposto as porradas de tantos e muitos.
O menino tem um lado do rosto arroxeado pela brutalidade do mundo da lei .
 A mãe olha o filho e chora. Chora a mãe do menino que vê o filho sem a guarida da infância. Fazer o quê? O povo rico trata a gente como lixo-afirma a mulher, com uma dor agressiva, contraditoriamente mascarada pelo conformismo que rege seus dias.
Toda criança deveria ter o direito de ser tratada como criança !
A voz do racismo que se revela pelo olhar superior da autoridade,  desdenha da pretude da pele do menino e o arrasta para os becos periféricos da invisibilidade. *Seu pretinho filho de uma rapariga-vomita a lei sobre o ego do menino que aprisionado pela humilhação e pelo sofrimento urde “vinganças” futuras.
O país de Cabral esconde o rosto e insiste na contemporização da tese “droga maldita” para esconder-se dos navios negreiros que habitam as esquinas das decisões sócio-políticas.
O racismo delimita áreas, não se contenta com miudezas.
O menino, como tantos outros vive em favelas, grotas onde a morte social chega antes do futuro.
O menino, como tantos outros pobres e pretos, morador da favela distante, experimenta o exílio da cidadania, o desenraizamento da palavra dignidade.
A vida do menino é repleta de escassez. Plena de carências.
A vida do menino é quase um abismo intransponível.
Quase.
Quase!
Quase?