Socializando a segunda parte da reportagem da jornalista Flávia Amaral / Tribuna Independente, em Alagoas, publicado neste domingo, 16 de outubro, com o título de "Racismo dentro das escolas agrava evasão em Alagoas"
Menina deixou escola após "pressão"
Basta visitar uma escola para que numa conversa rápida com alunos fique evidente a importância de a temática do racismo ser encarada como prioridade e entrar na pauta de discussão de gestores da Educação.
A sala do oitavo ano da Escola Theonilo Gama, no Jacintinho, não difere das demais, como afirmou Valéria Silva, que acompanhou o drama de uma colega negra e de cabelo crespo, que deixou a escola. “O cabelo dela é bem ruim, por isso ela sempre tem que ouvir o pessoal chamar de Foguinho. Todos da sala mexem com ela e ela já chegou a chorar muitas vezes”, lamentou a estudante.
Fomos até a escola para conversarmos com a vítima, mas era tarde. Segundo a diretora Gilvanete Matias da Silva, a jovem saiu do colégio por não suportar a pressão dos colegas pelo fato de ela ter o cabelo crespo. “Ela vinha à direção, a gente conversava com os colegas, mas depois acontecia de novo. Ela chegou até a colocar um aplique no cabelo, mas em vão”, contou.
O drama foi acompanhado por diversos alunos. João Cavalcante, 13, lembra o quanto era difícil para a estudante se manter em sala de aula. “Vi várias vezes a bichinha chorar. Ela brigava às vezes e ia na diretoria, mas paravam de mexer com ela naquele dia. Depois voltava tudo de novo”.
A Lei do Racismo nas escolas ainda é ilustre desconhecida de boa parte dos estudantes de escolas públicas ou particulares. Mas quando colocados em contato com a essência da lei, a matéria divide opiniões. Em uma conversa com quatro estudantes negros, permearam visões bem diferenciadas, mas entre elas um consenso: o racismo precisa ser combatido.
Para Luigi Nelson de Oliveira, 15, uma disciplina não resolveria um problema tão sério. “Somos todos iguais e não deveria ter matéria pra gente saber disso e respeitar o outro. Se não acontece isso hoje, não vai ser uma matéria que vai mudar”, analisou. Ailton José, também com 15 anos, é mais otimista. “Resolve, sim, estudar, estudar, até aprender o que é certo e o que é errado”. Mais ponderado, João Cavalcante - que assistiu às humilhações contra a colega de turma que acabou indo embora da escola - admite que a matéria pode não resolver, mas ajuda a melhorar.