Socializo uma carta do jornalista Carlos Nealdo que arruma as malas para fugir das impossibilidades das Alagoas. Dá uma tristeza medonha essa de filh@s da terra estrear a cantiga do bye,bye.
Nossos números de exclusão são extremamente vergonhosos. E a miséria continua batendo- toc-toc-toc- nas portas de tant@s e muit@s, apesar da bolsa-miséria.
Boa viagem Carlos, mas não feche a porta de regresso. Um dia Alagoas muda. Um dia!

Senhor governador do Estado de Alagoas,

Não conheci seu pai - o que considero uma pena, a julgar pelo que li sobre ele, em especial o livro “Teotônio, o Guerreiro da Paz”, do jornalista Alves Marcio Moreira – e embora ainda adolescente, me emocionei com a poesia do Milton que viraria um dos hinos da campanha pelas Diretas no País. Ainda hoje, passados tantos anos, me pego cantando a canção – seja pela beleza dos versos, seja pelo que eles representaram na história do País:
“Quem é esse saltimbanco
Falando em rebelião
Como quem fala de amores
Para a moça do portão?”
Filhos de pessoas ilustres costumam dizer que não há nada mais pesado do que o sobrenome do pai. Confesso que não sei se teria estrutura de carregar um apelido famoso, porque isso requereria de mim muito mais esforços. Preservar o sobrenome de alguém importante é uma tarefa árdua e não menos penosa. Por isso lamento pelo senhor, governador. Imagino que não deve ser nada fácil suportar um Teotônio Vilela sublinhado – imagine a carga! – por um sonoro Filho. Costumo dizer que sobrenome se constrói; já sobrenome construído, é preciso trabalhar dobrado sob pena de manchá-lo. O senhor não parece ser uma má pessoa. Já tive a oportunidade de conversar algumas vezes com vossa excelência – todas elas no exercício da minha profissão. Quem analisa a conjuntura política do Estado, no entanto, tem outra impressão. E esta, infelizmente, é a que está ficando. Dá desgosto ver Alagoas ocupar manchete negativa na imprensa nacional – quase sempre relacionada à violência, saúde e educação. Eu tenho orgulho de ser alagoano – mesmo com meus colegas de profissão de outros Estados vindo me cumprimentar, nos encontros de trabalho pelo Brasil a fora, sempre com a velha frase: “Ah, você é do Estado daquele político lá, né?”. Não. Eu sou de um Estado que tem muita gente boa, em todas as áreas de atuação. Quer ver? Música? Hermeto Paschoal, Djavan, Jararaca (da dupla Jararaca & Ratinho)... Cinema? Cacá Diegues, Jofre Soares... Literatura? Lêdo Ivo, Graciliano Ramos, Jorge de Lima... Mas sei que tem algo errado com o lugar onde moro, sim. Não vou fechar os olhos, como o senhor parece ter feito (governador, o senhor é filho do Menestrel, lembra!?). Antes mesmo que o senhor queira saber quem eu sou, eu respondo: sou uma estatística, governador. Uma estatística do seu governo. Entrei para essa – gostaria de dizer seleta, mas infelizmente não cabe o termo aqui – categoria hoje. Estou sendo obrigado a me mudar de onde moro pela violência desenfreada que toma conta do Estado. Obrigado a deixar o lugar onde fiz amizades, vínculos e – mais do que tudo isso – construí um lar. Tudo isso porque homens armados invadiram, nesta manhã de terça-feira, o pequeno condomínio onde divido espaço com alguns moradores, arrombaram as casas e ameaçaram pessoas – inclusive crianças. Tudo em plena luz do dia, sem a interveniência do Estado. Eles sabem que nenhum mal será lhes feito. A polícia não age – e não é por culpa dos profissionais existentes no Estado. Antes, é pela falta deles. Não temos médico, professores e policiais suficientes. E o que temos, trabalham em situação adversa. Falta tudo do lado dos mocinhos – de colete a ambulância. E os bandidos sabem fazer conta – mesmo sem escola, que, infelizmente, estão caindo aos pedaços. Estou deixando um lugar de gente simples, mas tão humana que já me dói a despedida. E não é por culpa dos bandidos. É por culpa da omissão do Estado, senhor governador. Mas antes de me mudar, gostaria de dizer que torço para que tudo isso seja revertido em tempo hábil. Torço por vossa excelência. Francamente, gostaria que, no futuro, o senhor fosse lembrado como Teotônio Vilela Filho. E não apenas como filho do Teotônio Vilela – pai.