Nossa querida Alagoas se ajoelha hoje para reverenciar a memória do Padre Cícero, nos seus 165 anos de nascimento. Mais de 50 mil alagoanos vão circular na próxima semana durante sete dias da festa do Padim Ciço na cidade de Juazeiro do Norte, no Ceará.

De todas as partes de Alagoas ainda hoje estão saindo os romeiros de ônibus, carros, de bicicletas, a pé e de caminhão pau-de-arara para a grande festa de Padre Cicero em Juazeiro.

Por exemplo, de Marechal Deodoro o prefeito Cristiano Matheus(PMDB) enviou mais de 600 romeiros. Do Pilar, o vice-prefeito Renatinho Rezende Canuto(PSDB) já se encontra em Juazeiro do Norte levando cerca de 20 ônibus com romeiros pilarense.

Ele conta a este blog, que todos os anos vai a festa de Padre Cicero. Segundo Renatinho é a maior feste religiosa do Nordeste.

Também de Murici, o prefeito Remi Calheiros(PMDB) mandou 1 mil romeiros que vão passar uma semana rezando em Juazeiro do Norte(Ce) com direito as refeições e hospedagem. Outra cidade que tá lá representada por mais de 3 mil romeiros patrocinada pelo prefeito Lula Cabeleira é Delmiro Gouveia.

A festa esse ano conta com a presença do radialista França Moura, da radio Jovem Pan, que vai passar uma semana transmitindo diretamente de Juazeiro do Norte o seu programa Cidadania.

Ele saiu no sábado e na segunda feira, já faz o programa da cidade da maior concentração neste época do romeiros do Padre Cicero.

A Fé em Padre Cicero

Crato. Em 24 de março de 1844 nascia Cícero Romão Batista, que, em 90 anos de vida — faleceu em 20 de julho de 1934 — testemunhou fatos marcantes, transformando a história de um povo. Já como Padre Cícero, foi suspenso das ordens sacerdotais e quase excomungado pela Igreja Católica, ao protagonizar o fenômeno conhecido como “Milagre de Juazeiro”. O certo é que ele foi e continua sendo um personagem capaz de suscitar muitas polêmicas não só na Igreja Católica, mas, também, no meio acadêmico brasileiro.

Para a elite intelectual da época, a excomunhão, que não foi oficializada porque não chegou ao conhecimento do sacerdote, seria “o tiro de misericórdia” na fé do povo que o tem como santo. O tiro saiu pela culatra. Perseguido, injustiçado e proibido de exercer o ministério sacerdotal, tornou-se vítima da Igreja que ele tanto serviu com desvelo e dedicação.

Na cabeça do homem simples do sertão, as acusações de “embusteiro, coronel e fanático” transformaram-se num libelo em sua defesa. O padre estava sendo vítima da intolerância. Nascia então o “santo nordestino”, cearense, cabeça chata, com a cara do povo, trazendo no currículo a mesma história de vida de milhares de sertanejos, “sem eira nem beira”, que ainda hoje tentam romper com as intransponíveis barreiras dos preconceitos sociais, políticos e religiosos.

A imagem do Padre Cícero ainda não subiu aos altares das igrejas, mas ocupa o mesmo espaço dos santos canonizados nas feiras livres do sertão. O vendedor de imagens Severino Paulino, que há 50 anos vende quadros dos santos mais populares da Igreja Católica, diz que a estampa mais vendida é a do Padre Cícero.

“Nem mesmo o quadro do Coração de Jesus e Coração de Maria é tão procurado quanto o do meu Padim”, diz Severino, confessando-se ardoroso devoto do sacerdote caririense.

Hoje, 75 anos depois de sua morte, a mesma Igreja que o condenou no passado, tenta reabilitá-lo. Quando dom Fernando Panico assumiu a Diocese do Crato, em 2001, o então cardeal Ratzinger — hoje, papa Beto XVI — lhe pediu que revolvesse os arquivos e pesquisasse tudo sobre o sacerdote já canonizado pelo povo. O ponto de partida foi a formação de uma Comissão de Estudos para o Processo de Reabilitação Histórico-Eclesial do Padre Cícero Romão Batista. No dia 30 de maio de 2006, dom Fernando entregou à Congregação para a Doutrina da Fé, em Roma, cerca de 2.500 páginas (11 volumes) e cinco anos de pesquisas, solicitando a reabilitação do sacerdote. A entrega foi acompanhada pelo Diário do Nordeste que enviou um repórter para documentar o fato histórico.

Três anos depois da entrega do processo, pouca coisa evoluiu. Depois que os documentos ultrapassaram os muros do Vaticano, uma cortina de silêncio cobriu o assunto. Ouvido pela reportagem, dom Fernando afirmou que não tem nada a acrescentar. Revelou que, no mês de maio, voltará à Itália, numa viagem particular. No entanto, vai tentar colher informações sobre o andamento do processo. Antecipou, entretanto, que talvez não consiga nenhuma informação.

Na carta ao papa Bento XVI, por ocasião da entrega dos documentos à Congregação para a Doutrina da Fé (e já publicada pelo Diário do Nordeste em 11.6.2006), dom Fernando afirmava: “Venho, com toda esperança e humildade, suplicar a Vossa Santidade que se digne reabilitar canonicamente o Padre Cícero Romão Baptista, libertando-o de qualquer sombra e resquício das acusações por ele sofridas”.

Enquanto a reabilitação não vem, o nome do Padre Cícero cresce como um dos santos mais populares do Nordeste. A própria Igreja, que tratava os romeiros com indiferença, abriu as portas e o coração para acolher os milhares de devotos do cearense do século.

O tom dessa mudança foi dado por dom Fernando Panico em sua primeira Carta Pastoral aos diocesanos, quando afirmou: “É impossível não levar em conta, na minha missão de Bispo de Crato, a situação muito especial da cidade de Juazeiro do Norte, que é um importante centro de romaria no Nordeste por causa da memória que o povo cultiva, com muito carinho e devoção, do Padre Cícero Romão Batista, presbítero da nossa Diocese que merece nosso carinho, apesar de tudo o que contra ele aconteceu e se tem escrito. Desejo reforçar os cuidados pastorais em favor dos milhares de irmãos e irmãs, na maioria absoluta, pobres, romeiros de Juazeiro do Norte”.

Processo no Vaticano

Expectativa é pela reabilitação

 Não é segredo para ninguém que Padre Cícero, a seu tempo, foi condenado pela Igreja Católica, especialmente por essa instituição no Ceará. Essa condenação foi um longo processo que se iniciou muito antes do famoso decreto do Santo Oficio – atual Congregação para a Doutrina da Fé – de abril de 1894, que afirmava ser o sangramento da hóstia um fenômeno vão e supersticioso. Portanto, mentira e fraude. Ao relembrar estes fatos, a psicóloga Maria do Carmo Forti analisa que sua reabilitação não é indiferente para os romeiros.

Padre Cícero, segundo a psicóloga, amava a Igreja Católica, lutou a vida toda para reaver suas ordens sacerdotais, viveu sempre dando testemunho de seu amor a Deus, à Nossa Senhora e à Igreja. Sofreu como poucos por não poder viver plenamente seu sacerdócio. O devoto, segundo Maria do Carmo, quer ver o Padre Cícero reconhecido também pela Igreja a quem dedicou sua vida.

A psicóloga, que faz parte da comissão que elaborou o documento de reabilitação, orienta que a Igreja reveja todo processo agora com os documentos que, por quase 100 anos, ficaram arquivados na Cúria da Diocese do Crato. Esses documentos, segundo a psicóloga, revelam os bastidores de toda história da “questão religiosa do Juazeiro” e foram estudados pela Comissão de Estudos para a Reabilitação Histórico-Eclesial do Padre Cícero.

“Foram compulsados documentos até então inéditos; foram lidas e catalogadas centenas de cartas, cujo conteúdo ninguém conhecia antes, revelando como se deram os encaminhamentos para as decisões tomadas, desfavoráveis ao Padre Cícero Romão Baptista”, diz ainda a carta entregue no Vaticano pelo bispo da Diocese do Crato, dom Panico.

“Portanto, é fundamental que a Congregação para a Doutrina da Fé saiba, exatamente em que, em quais idéias, pensamentos, sentimentos, ela, entre os anos 1893 a 1926, emitiu seus pareceres e decretos”. Ao fazer esta advertência, Maria do Carmo analisa: “É muito provável, eu pelo menos acredito nisso, que o então cardeal Ratzinger tenha percebido que os documentos que constam nos Arquivos do Vaticano não eram suficientes para se entender o caso do Padre Cícero. Por isso seu pedido para que fossem abertos os arquivos aqui do Brasil”.

Para Maria do Carmo, o Vaticano já respondeu ao pedido do povo. A abertura dos arquivos da Cúria do Crato demonstra que a Congregação reagiu a esses muitos pedidos. O que a instituição ainda não fez, nem podia fazê-lo, segundo a psicóloga, era dar uma resposta a eles. Isso porque quem deve pedir a reabilitação é o bispo da Diocese à qual Padre Cícero pertencia na época.

Foi o que fez dom Panico. Mas não só ele, é bom que se diga. A petição para a reabilitação do Padre Cícero foi assinada por 274 bispos do Brasil que, pouco antes da viagem a Roma para entrega dos documentos, estavam reunidos em Assembléia em Itaici, São Paulo.

É a Igreja do Brasil que reconhece que a Santa Sé deve considerar, com muita seriedade, esse pedido, porque o Padre Cícero merece. É uma questão de fazer justiça para com os romeiros de Juazeiro do Norte “visitar” Padre Cícero e Nossa Senhora das Dores numa atitude de resistência e de fé, apesar de todas as discriminações.

Colaboração:Jornalista  cearense,Rangel Cavalcante, meu ex-companheiro do Jornal do Brasil na década de 70

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