O menino assiste contrito o desfile da Independência da República. Está sentado no batente da calçada, disputadíssima pelo mundaréu de gente que invadiu a avenida.
A avenida é grande, mas o quantitativo das gentes da Alagoas ávido para assistir ao desfile é bem maior.Assim como o menino e sua mãe, que assistem ao ato cívico ao lado de mais quatro filhos, irmãos do menino.
O pai preferiu ficar com os amigos, relaxando do trabalho pesado de todo dia, o dia todo.
O menino é curioso e minucioso ao analisar os detalhes. Quando assiste a algo que lhe agrada bate as mãos em palmas de aprovação.
Quanto anos terá o menino que assiste ao desfile do 7 de setembro nas ruas de Maceió, acompanhado da família, menos o pai que ficou com os amigos?
Uns nove anos, talvez mais, talvez menos.
E, quando o locutor entusiasticamente anuncia a próxima atração do desfile: um batalhão policial,o menino que mesmo tendo medo de polícia, se posiciona de pé para apreciar tudo mais de perto.
E ao ver os soldados uniformizados de valentia, portando no coldre na cintura, um revólver, o menino puxa a saia da mãe e afirma:
Foi um revólver igual aquele que matou o vigia lá da escola, mãe.
Matou de verdade!
E no dia da independência do Brasil, em Alagoas, o tiroteio e a conseqüente morte do vigia do Colégio Rosalvo Lobo, em Jatiúca aprisiona,em casa, menin@s que deveriam ir à escola.
É o desfile da violência contemporânea.
Tu liberdade formosa!