Numa democracia, a greve é um direito, não um dever

31/08/2011 13:21 - Adrualdo Catão
Por Adrualdo Catão

Bom, eu sou contra a greve de servidores públicos, mas admito que, hoje, no ordenamento brasileiro, ela é um direito. Por isso, respeito o direito daqueles que não se conformam com seu salário e condições de trabalho e que acham que a greve é a melhor maneira de pressionar o governo. Repeito, mas não me incluo entre eles.

Por isso, sou professor da UFAL e não vou entrar em greve.

Ocorre que, entre alguns professores, surgiu uma interpretação bastante peculiar sobre a natureza da greve. Anos atrás, decidiu-se que as aulas ministradas pelos professores em período de greve deviam ser desconsideradas. Na prática, a decisão tornou a greve obrigatória.

Vejam que estado de coisas interessante. Quem quer entrar em greve, convoca uma assembleia e, nessa ocasião, cerca de 100 pessoas decidem o futuro de todo o corpo docente da UFAL. Como se não bastasse, aqueles que querem trabalhar ficariam impedidos de fazê-lo por determinação administrativa!

É uma piada? Não, é Brasil!

Essa decisão é inconstitucional, ilegal, abusiva e imoral. Viola o direito do servidor público de ir trabalhar! A greve, que devia ser instrumento de protesto, passa a ser institucionalizada e impede o cidadão livre de cumprir seu dever.

Essa decisão não seria tomada novamente. O Consuni não seria tão leviano. Ela é também, na prática, inexequível. Como é que professores vão dar aulas novamente? Como se daria isso?

Isso, na verdade, é só a tropa de choque do pior autoritarismo tão característico dos partidecos que empunham a bandeira da greve. São minoria, mas querem vincular a maioria. Usam as velhas táticas de assembleia e impõem suas pautas na marra. Querem, além de tudo, impedir o servidor de trabalhar!

E quanto ao aluno que, solidário aos professores, queira entrar em greve com eles? (você não sabe, leitor, mas há alunos que querem “aderir” à greve). Bom, minha opinião é de que aluno não entra em greve. E se entrar, que arque com as consequências.

Mas, como vocês sabem, a UFAL é cheia de colegiados populistas. Assim, para não “prejudicar” o aluno grevista, basta que ele possa cursar a disciplina novamente, ora! Ele jamais poderia obrigar o professor a dar aulas novamente... Seriam aulas particulares? Por favor!

Ademais, se uma decisão desse tipo for tomada, poderia ser facilmente contestada na Justiça. Ainda existe isso por aqui, viu? Existe um documento chamado Constituição. Dizem que ainda vale alguma coisa.

Por isso, em nome da nossa Constituição e dos direito de liberdade eu afirmo que vou cumprir o meu dever e trabalhar normalmente amanhã. Se estiverem fechando a entrada da UFAL, eu, obviamente, darei meia-volta. Tenho um filho para criar e quero preservar minha integridade física. Porém, havendo condições materiais, darei aulas normalmente.

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