Nos anos 70 o surgimento do MNU redimensionou a militância política nos anos de ditadura militar e contribuiu para uma maior organização da militância e para convencer os grupos de esquerda que a desigualdade e o preconceito raciais iam bem mais além do que a exploração da classe dominante no sistema capitalista.
Para a contemporânea militância negra brasileira filiar-se a partidos políticos é ser um elo contínuo da maturação ativista. É afiançar a participação do povo negro na vida pública do país. É, a partir da nossa pertença elencar valores e politizar as bases internas do partido, tendo como princípios a igualdade de direitos, baseado nas diferenças humanas e o combate ao apartheid sócio-étnico instalado no território miscigenado, desde os tempos de Cabral.
É estimular o lobby, como movimento crítico para a criação de pontes que permitam o debate democrático, no estatuto partidário, sobre o holocausto do racismo no Brasil e suas conseqüências contemporâneas, como também influenciar nas ações dos governos a implementação da ação política compromissada com a excelência do contributo que africanos e afrodescendência legaram à democracia brasileira.
Em Palmares tivemos a grande epopéia negra das “Américas”: a autêntica “República Negra de Palmares!
Valeu Ganga Zumba?
Assumir cargos no poder é o ritmo natural da politização e a conquista dos espaços, mas é natural vendermos nossas lutas em nome desse falso e ilusório poder?
O poder tem escravizado a consciência das muitas gentes de pele preta ou parda que “filiadas” e “nomeadas” se engalfinham na disputa do “poder pelo poder”, nas utópicas secretarias, departamentos, ministérios, núcleos, seja lá a nomenclatura que tenham, na Capital Federal ou em interiores remotos das terras de Cabral,
E apesar desses muitos espaços de poder instituídos e exercidos na sua grande maioria pelo povo de pele preta ou parda, a política de promoção para igualdade racial ocupa espaços exíguos na plataforma política brasileira e as comunidades negras, pobres, periféricas e quilombolas dos muitos e diversos territórios do país miscigenado, ainda, não experimentam transformações importantes.
Por quê?
No Ano Internacional dos Afrodescendentes nas terras miscigenadas de Cabral, o orçamento dos órgãos que lidam com a implementação de políticas para a população negra que já era exíguo, em 2011 está sequinho, sequinho...
Em Alagoas a Serra da Barriga, despida de gestão política, abandonada há séculos a sua própria sorte, despertou a vocação dos políticos sem cargo e equipe sem emprego, no loteamento do e para poder.
Tem cargo em disputa!
Ô Zumbi abre asas sobre nós!
A questão racial virou massa de manobra dos partidos políticos, que não nos aceitam legalmente, apenas de maneira informal e clandestina. Vivemos sob a sujeição a grupos e as organizações de forças partidárias, ou fomos nós que vestimos o terno e o discurso hierarquizado, mecanizado, pasteurizado dos nossos pares?
É preciso que a militância negra brasileira alojada em partidos retome a paixão das ruas, abrindo a escuta para quem está nela, ou para quem acaba de chegar.
Estamos trilhando um caminho perigoso: a  causa é quem deveria estabelecer espaços dentro dos partidos políticos e não por eles, ser violentada.
Novamente, nos colocam a forquilha nas palavras liberdade, consciência, emancipação étnica.
A disputa por cargos a ferro e fogo tem nos deixado despido da consciência do outro, da essência militante. Estamos nos equivocado em ações e propósitos por conta de “alguns tostões”.
Nas terras vastas de Cabral, do país chamado Brasil, extremamente racista, homofóbico e sexista e ,quase laico, bancadas religiosas ditam normas de conduta e a presidenta acata. Sem nem ao menos dizer amém.
Enquanto isso, a militância negra brasileira vive hoje, dentro dos partidos políticos, um exílio ideológico.
E no governo, então...
“Emancipem-se da escravidão mental”, já dizia Bob Marley