Minha filha hoje com 14 anos não lembra do 17 de julho de 1997,na época contava seis meses, mas eu lembro.
Eu ela estávamos na praça coalhada de gente anônima, mostrando a cara legítima do poder popular.
Sim, nós podemos!
O 17 de julho foi o clímax de um período de muita, mas muita provação: precisávamos provar que éramos capazes de suplantar a nossa própria fragilidade emocional , física e econômica exposta pela quebra do contrato estatal,com o bem estar da população tutelada..
Muitos de nós morreramos sufocados pela dor da impotência: o sentimento de inutilidade era tão imenso e desesperador!
Tínhamos um emprego, mas não salário, e o futuro tornara-se uma incógnita: Éramos nada, caminhando para lugar nenhum!
Um nada anônimo que numa soma de forças desafiou, na praça, a visível esterilidade do poder em produzir soluções políticas
Alguns buscaram a morte como parenta para libertar-se da dor. Cometeram suicídio.
As mortes (quantas foram?) são como números radiografados de um desespero coletivo. Uma leitura pública dessa herança mórbida do escravismo social.
Outros enlouqueceram.
A ausência do alimento básico era presença constante na mesa de tantos e muitos. Como um constrangimento repressivo estatal.
Nós, os chamados adultos, chorávamos com a facilidade de crianças de colo e esperamos resignados, até o 17 de julho, ( foram nove meses sem remuneração salarial) pelo milagre das negociações políticas.
Muitas de nossas casas tornaram-se vazias de móveis: vendemos para colocar um pouco de comida à mesa. Como quinquilharias baratas para nos livrar da zona de perigo.
Tornamo-nos devedores crônicos, alvos de farta correspondência do Serviço de Proteção ao Crédito, o SPC e da SERASA.
Éramos um povo sem auto-estima e sem um tostão, soterrado pelos balbucios insignificantes e inconstantes das políticas estruturais.
Era o começo das lesões na auto-estima do funcionalismo público que ainda hoje anda alquebrada.
A quantas anda a auto-estima do funcionalismo público em Alagoas?
Resposta óbvia: 7% mais aviltada.
O 17 de julho foi um dia marcante, apesar dos muitos perfeitos silêncios e as tramas, intercalando perguntas.
No 17 de julho mostramos nossa unidade de ser povo. Nossa indignação ganhou as ruas e invadiu os espaços de poder.
É pena que 14 anos depois tornamo-nos sedentários: perdemos a capacidade transformadora de exercitar nossa indignação!
Nas ruas!