O jornalismo a serviço do racialismo

05/05/2011 13:05 - Adrualdo Catão
Por Adrualdo Catão

Amigos, estava em viagem de trabalho e não tive tempo de comentar essa notícia abaixo. Volto depois. Atenção para os trechos em negrito.

Censo 2010: população do Brasil deixa de ser predominantemente branca
Do Globo:

Pela primeira vez na História do Censo, a população do Brasil deixa de ser predominantemente branca. Pelos dados de 2010, as pessoas que se declararam brancas são 47,73% da população, enquanto em 2000 eram 53,74%. Nos outros Censos, até agora, os brancos sempre tinham sido mais que 50%. Em 2010, do total de 190.749.191 brasileiros, 91.051.646 se declararam brancos - o que faz com que, apesar de continuar sendo o grupo com maior número de pessoas em termos absolutos, a população branca tenha percentual menor do que a soma de pretos, pardos, amarelos e indígenas.

A população negra aumentou em quatro milhões, indo de 10.554.336 em 2000 para 14.517.961. Já a parda aumentou em 16,9 milhões: foi de 65.318.092 para 82.277.333. A parcela de indígenas cresceu de 734.127 para 817.963, e a amarela, de 761.583 para 2.084.288. A população branca foi, assim, a única que diminuiu. Paula Miranda-Ribeiro, professora de demografia do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da UFMG, sublinha essa mudança cultural.

“O Brasil está mais preto, algo mais próximo da realidade”, diz Paula, para quem a principal razão é a maior identificação de pretos e pardos com sua cor. “É a chamada desejabilidade social. Historicamente, pretos e pardos eram desvalorizados socialmente, o que fazia com que pretos desejassem ser pardos, e pardos, brancos. Agora, pretos e pardos quiseram se identificar assim. Isso pode ter a ver, ainda, com a afirmação dessa população como forte consumidor atualmente, que se refletiu em afirmação de identidade. Outra razão desse aumento de pretos e pardos é também o maior número de casamentos interraciais.

“O Censo confirma o que já vinha sendo indicado nas PNADs. Entre 1995 e 2008, houve queda de seis pontos percentuais do número de pessoas brancas”, diz Marcelo Paixão, coordenador do Laboratório de Análises das Relações Raciais da UFRJ. “É fruto de um processo de valorização étnica, que vem de visibilidade maior tanto de atores e personalidades negros quanto de temas como cotas. Como o aumento de pretos e pardos foi também nas faixas etárias intermediárias, não só dos que nascem, por exemplo, podemos ver, sim, mudança comportamental”.

Moradora de Campo Grande, Zona Oeste do Rio, a vendedora Gisela Zerlotine fez questão de se declarar parda no Censo de 2010: “Apesar de não ter pele tão escura, eu me sinto mais próxima de pardos e negros, minha família tem muitos negros”, diz Gisela, casada há sete anos com Luiz Carlos de Oliveira, negro. “A gente tem dois filhos. Um é meu de uma relação anterior, Pedro, de 8 anos, branco mesmo, o pai era bem branco. E a outra é a Milena, de 2, filha minha com o Luiz Carlos. Ela já é caramelo. É bem misturada”.

Comento:

1. O Brasil tem maioria de brancos. Se essa fosse a manchete, estaria errada? Não. Número dos que se declaram brancos é maior do que todas as outras “raças”. Mas o culto racialista impregnou o jornalismo e a notícia já começa com um título controverso. Mas até aí, tudo bem. É escolha do repórter.

2. O Brasil é um país de pardos e brancos. Se a manchete fosse essa, estaria errada? Não. A população negra é de 14.517.961, enquanto a parda é de 82.277.333! Mas a militância racialista não quer saber de pardos. Tanto é assim que, na hora que os números servem para seu proselitismo, chama pardo de “negro”. É a purificação da raça que promove o sumiço dos mestiços. O Brasil é um país mestiço!

3. Mistificação: “O Brasil está mais preto, algo mais próximo da realidade”. Como? Depois de enfatizar o que a militância racialista quer, o jornalismo publica uma mentira escancarada. O Brasil está mais PARDO. Mais MESTIÇO. Só a população declarada como parda cresceu mais do que a população declarada como negra como um todo! Mas a verdade pouco importa para os racialistas. Eles querem um país de brancos e negros.

4. Forçando a barra: Segundo a reportagem, “Agora, pretos e pardos quiseram se identificar assim”. Quiseram, não, amigão! Foram obrigados! O Censo 2010 trabalhou com categorias fechadas de cor! Já escrevi sobre isso aqui no blogue:

“Outra estratégia é essa de agora. Predeterminam as etnias que devem ser declaradas e incentivam a declaração “pura”. Negro deve se declarar preto. Se, para ser honesto, tenho que me declarar preto ao invés de “moreno”, os mestiços tendem a desaparecer.

Isso é uma tática racista adaptada aos novos tempos multiculturalistas. O próprio IBGE deixa claro que a intenção é mapear o Brasil e os brasileiros para “maior detalhamento geográfico da composição étnica da população”. Isso, obviamente, serve à pregação multicultural e à política de cotas baseada na raça.

Isso é um absurdo completo. Estão mesmo querendo oficializar a raça. Querem dividir os brasileiros em etnias para justificar cortes sociais em termos de raça. Todo o mito da democracia racial jogado fora em favor de um novo mito: o da “ditadura racial”. É, amigos. Tanta luta contra o racismo e hoje se usa o Estado para classificar cidadãos quase compulsoriamente”.

Vejam vocês que a mulher entrevistada na reportagem disse que a filha é “caramelo”. A reportagem se traiu. Mostrou que esse papo de raça não cabe na cabeça dos brasileiros. Ela, coitada, que tem uma filha “caramelo”, não pôde dizer isso no Censo 2010, porque o IBGE não deixou. A mãe na certa teve que escolher ter uma filha preta ou parda. Caramelo não pode!

Amigos, quando vocês lerem notícias sobre estatísticas raciais, desconfiem logo. Ela estará cheia de armadilhas lógicas e informações falsas. A militância racialista precisa defender seus cargos nas diversas secretarias especiais pelo Brasil e o jornalismo tem sido um grande aliado.
 

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