Há uma semana à frente da Delegacia Regional de Combate ao Crime (DRCOR) Organizado da Polícia Federal em Alagoas, o delegado Daniel Grangeiro concedeu entrevista ao CadaMinuto.

O delegado falou sobre a organização das facções criminosas no estado e as classificou como “consórcio do crime”. Grangeiro colocou ainda que a integração entre os órgãos que fazem Segurança Pública em Alagoas é de fundamental importância para se diminuir a criminalidade no estado.

A DRCOR engloba três delegacias: repressão a entorpecentes, repressão ao tráfico de armas e repressão a crimes patrimoniais.

CadaMinuto – Como o senhor avalia o fato de que muitos criminosos saem de outros estados para praticar crimes em Alagoas?
Daniel Grangeiro – Na realidade o que tenho notado é que aqui tem um consórcio de criminosos para a prática de delitos, já que a segurança pública aqui em Alagoas deixa um pouco a desejar. Quando falo isso, me refiro a todas as Polícias. Está acontecendo mesmo essa migração já que o combate ao crime no Rio de Janeiro e em São Paulo está apertando o cerco. Eles procuram onde é mais fácil atuar e aqui o estado é convidativo, tem praia, é um lugar pacato, em tese, com pessoas receptivas e também a questão da facilidade. O número de assaltos está impressionante.

CM – Então os bandidos trocam informações entre si sobre quais lugares há mais facilidade para a prática de crimes?
DG – Com certeza, a rede de contato deles funciona como um setor de inteligência mesmo, com levantamento de dados e isso não é uma coisa característica da Segurança Pública não. Os bandidos também estão nesse nível de contatos e de levantamento de informações.

CM - O senhor acredita que um dos caminhos para se combater a criminalidade em Alagoas é a integração entre as Polícias no estado?
DG – Com certeza, sem integração entre as forças de Segurança Pública esse trabalho de combate e diminuição dos crimes aqui não vai ser possível. A Polícia Federal está sempre à disposição para ajudar também em casos que não são nossa atribuição. E como cidadão, a gente tem também a obrigação de ajudar.

CM – A estrutura das Polícias em Alagoas é muito discutida, como senhor avalia o quadro da PF no estado?
DG – Em relação à Polícia Civil eu diria que a estrutura é só um pouco melhor, mas as carências são as mesmas, de pessoal, de recurso. Por isso essa integração é tão importante, pois temos que unir forças. Se cada um procurar fazer o trabalho de forma isolada não se chega a lugar nenhum.

CM – Qual a importância do Serviço de Inteligência dentro da estrutura dos órgãos de Segurança Pública?
DG – É um trabalho fundamental. Há crimes de uma certa complexidade e que demandam um certo tempo para serem esclarecidos. Muitas vezes a gente precisa usar de todos os meios de investigação para mapear os criminosos. Não é uma coisa fácil nem imediatista, principalmente quando lidamos com crimes do colarinho branco, quando é necessário um trabalho mais documental. Não é uma coisa simples, há a análise financeira, não é fácil. Segurança Pública não se faz de forma imediata, é um trabalho a longo prazo. O que se tem que enfatizar sempre é a questão do Serviço de Inteligência e a questão da integração, o caminho é esse.

CM – Na última semana quatro agências dos Correios foram assaltadas no estado. Como estão as investigações?
DG – A gente tem acompanhado o trabalho de algumas quadrilhas e verificando que algumas usam o mesmo modus operandi. Assalto normalmente é consórcio, nem sempre é a mesma quadrilha, muitas vezes é um indivíduo de uma quadrilha que se junta com outro e comete o crime.

CM – Em relação ao comércio de entorpecente, Alagoas entrou na rota definitiva do tráfico de drogas?
DG – Essa droga vem principalmente dos países andinos que são os grandes produtores de cocaína, e o crack é o refugo da cocaína. As rotas são as mais diversificadas possíveis, a parte terrestre é bem utilizada, a aérea e a marítima também. Na realidade deveria se ter um controle maior das fronteiras e esse controle é prejudicado pela falta de pessoal.
Nosso país é um país muito grande, com as fronteiras abertas, o que dificulta esse controle. É preciso uma cooperação também dos países de onde saem essas drogas. É um problema grave e que tem influenciado na questão dos homicídios aqui em Alagoas. Muitas dessas mortes apresentam ligação com o tráfico, com a disputa pela venda de drogas.