Ser negra, mulher e pobre na República dos Marechais é viver em processos de simbolização, na busca de compreender as evidências históricas, reinventando assim o senso de pertencimento: sim-eu-se-quem-sou.
Resgatar valores não carcomidos pela pasteurização da cultura eurocêntrica, valorizando oportunidades de modificação positiva: sim-eu-posso!
A República dos Marechais ainda,abriga uma massa de populações anônimas despossuída de cidadania, milhares de mulheres de pele preta ou parda que são cotidianamente atropeladas pelas barreiras estruturais impedindo acessos e sucessos.
Mulheres que em muitos casos preferem o famoso: deixa-pra-lá, evitando a denúncia e o confronto com a insidiosa violência do racismo.
Violência que surge como um dado natural em resposta a intolerância e a ausência de políticas estruturantes.
Mulheres tantas e muitas que são estupradas diariamente pela demagogia do país miscigenado, transformando a cor da pele em predicado moral, no confronto direto entre o bem-branco e o mal=preto.
Uma meninazinha disse para outra da mesma idade: minha mãe disse que não posso brincar com você, porque você é suja.
Esqueceram de avisar para meninazinha que a pele preta não larga tinta.
O racismo produz fraturas insanas nas almas e auto-estima de tantas e muitas meninas e mulheres na saga das idas,vindas e os acasos sociais, como a tal descoberta do DNA europeu nas peles pretas e pardas,entabulando uma conversa repleta de ambigüidades com a abolição não conclusa.
A moça chora inconsolável com a carteira de trabalho na mão, o “patrão” justificou a demissão afirmando que ela era “muito” qualificada para o cargo.
É voraz o apetite do racismo brasileiro.
Se o país de Cabral é tropicalmente miscigenado, e assume a tal mistura das identidades, porque contabilizamos tantos e diferenciados casos de apartheid?
A gente não pode deixar de não se importar.
A meninazinha diz a mãe que não vai a escola, pois a escola é um lugar ruim. Lá eles me chamam de “escravinha’-acrescenta.
A alma da gente não pode tornar-se sedentária ao ideal coletivo de humanização.
Seletivamente as mulheres de pele preta continuam ocupando o lugar social carregado de significados na história escravocrata: o subsolo da periferia.
Enredos engendrados socialmente como fórmula explicita de cerceamento das identidades das amplas populações anônimas, aqui interpretada como mulher, de pele parda ou preta, pobre, ou seja sub-cidadã.
No Dia Internacional da Mulher o diálogo dos lugares femininos do estado de Alagoas com a cultura da feminilização negra é estéril, ou não é fácil assumir-se mulher negra na República dos Palmares.

Raízes da África