A traição de Dilma ou O imediatismo dos concurseiros

10/02/2011 09:28 - Adrualdo Catão
Por Adrualdo Catão

Vejo aqui no Cada Minuto a reprodução de uma reportagem do Globo, segundo a qual, devido aos cortes no orçamento, os concursos públicos estão suspensos no Brasil. Nada mais correto, afinal, temos inflação alta, juros altos e gastos elevados com pouco investimento. Um dia isso ia dar problema, não é?

Mas esperem! Nas eleições, gente boa tentava me convencer que Dilma manteria a política estatista do lulismo e faria vários concursos, para o bem geral da nação “concurseira”. Para estudantes e professores de cursinho, PSDB era uma sigla maléfica e FHC pior ainda.

E o que era mais absurdo: mesmo aqueles que tinham simpatia pelo discurso menos estatizante e baseado na ideia de eficiência que o PSDB costuma defender, viraram a casaca. Em nome de um argumento imediatista, votaram em Dilma para defender seu futuro provável emprego público.

Escrevi um texto sobre isso que fez sucesso aqui no Blogue:

Concurseiros trocam consciência política por vagas: podem ficar sem os dois

Uma pequena pausa no trabalho para escrever um texto importante. Tenho escutado constantemente meus amigos concurseiros dizendo que, contra suas convicções, pensam em votar em Dilma, pois, segundo eles, a tara estatista do PT levaria a um aumento de vagas para concursos públicos. Isso os beneficiaria, pois estão brigando por uma dessas vagas.

Veja bem. Não estou me referindo aqui àqueles que acreditam mesmo no projeto de poder do PT. Estou falando daqueles que gostam da idéia mais republicana, que é atribuída ao PSDB, de que o Estado deve ser bem administrado e evitar desperdício. Esses se encontram numa espécie de dilema. Acreditam que essa “ideologia” levaria ao esvaziamento de vagas para concursos públicos e, apesar de acreditarem nela, pensam em votar contra porque querem sua vaga no Estado.

Estão duplamente enganados. Estão entrando no jogo dos petistas.

O discurso de eficiência administrativa, que é mais do PSDB do que de José Serra, inviabilizaria mais concursos públicos? Não. Pelo contrário. A idéia de eficiência levaria a privilegiar justamente os cargos que precisam de concurso. Enquanto isso, o “estatismo” do PT não é garantia nenhuma de mais concursos. O número de vagas para cargos que exigem concursos públicos subiu porque o Brasil cresceu. Isso aconteceria em qualquer governo. O que pode ser colocado na conta do PT é o aumento abusivo de cargos em comissão, isso sim! Esses são o objetivo maior do PT. Afinal de contas, não dá para garantir os companheiros em carreiras de Estado, não é?

Uma vez postei no Twitter a seguinte idéia: “concurseiros trocam consciência política por cargos? Podem ficar sem os dois”. A tara estatista pode levar a um grave problema nas finanças do Estado (os economistas alertam) e quem você acha que vai pagar o pato num governo Dilma? Você acha que o PT escolherá contingenciar cargos em comissão? Escolherá tirar companheiros do poder para abrir concursos? Só em sonho.

Isso se Dilma realmente conseguir evitar o pior. Se ela conseguir administrar as demandas dos companheiros, ainda estaremos bem. Mas e se ela não conseguir? E se, por causa dessa idéia idiota de que o Estado tem que ser gigante, chegarmos onde está a Grécia hoje, demitindo seus servidores? É capaz de ainda assim colocarem a culpa em FHC...

É por isso que eu digo que o concurseiro que está pensando em trocar sua consciência por um voto de interesse não pode mais acusar pobres coitados que trocam votos por tijolos ou cestas básicas. Lembre-se de que, pior do que o pobre coitado, você pode ficar sem nada, nem os tijolos!

FHC fez o certo. Acabou com o que restava da farra no serviço público. Foi isso que possibilitou a enxurrada de contratações no governo Lula, que só poderá ser mantida se algo for feito para equilibrar as finanças. Quem é mais capaz de manter o país no rumo? Se você acha que é Serra, não vote em Dilma olhando pro seu próprio umbigo.

Como eu disse: você pode perder a consciência e os tijolos...

Comento:

Argumentei o óbvio. PT fez concursos porque tinha dinheiro e vivia uma época de bonança na economia. FHC fez o que devia ter feito à época e, num governo menos gastão e irresponsável, os concurseiros seriam privilegiados. Um governo responsável daria preferência a uma administração eficiente e com menos funcionários comissionados.

Ninguém me ouviu, pois a emoção, nas eleições, é mais forte que a razão. Na cabeça das pessoas, apenas um dado contava. Com Lula, houve mais concursos. Eles não ligavam para o simples fato que Lula e FHC viveram épocas diferentes. A emoção transtorna o pensamento.

Eu digo mais. Lula podia ter feito mais concursos ainda, desde que tivesse deixado de contratar tantos companheiros em cargos comissionados.

Pois bem, eis que hoje a Presidente está aperreada com a sua herança maldita de gastos. Lula e Dilma investiram na retórica idiota de que gastos estatais são sempre bons. O nosso estatismo esquerdista e populista não entende que investir em infraestrutura não é a mesma coisa de criar ministérios para acomodar petistas incompetentes e aliados. O Brasil investe pouco e, por isso, agora é necessário cortar gastos, pois senão a inflação vai às alturas. Sem contar que temos a maior taxa de juros do mundo!

Agora os concurseiros estão apreensivos. Quem sabe se, com essa notícia, as pessoas possam ser menos imediatistas, hein?

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