Mais um corpo morto exposto nas ruas da capital alagoana.
Apenas mais um alimentando a paz de cemitério que traduz a comprovação de algo essencial: as mortes em série não tinham a fortuita intenção de “desestabilizar o governo em sua campanha política”, como disse uma eminente autoridade do poder judiciário alagoano.
As mortes são relatórios sociais de que a dignidade humana não pode habitar as tramas e dramas do descampado das ruas.
As mortes são provas infindáveis de que é preciso que os poderes exerçam o poder, "em nome do povo e para o povo” para os que desterrados da própria terra deixem de agonizar à margem das políticas públicas essenciais.
As mortes do sem-esperanças nas ruas de Maceió é mais do que um rotunda metáfora. É a flagrante constatação do abandono do povo pelo poder público.
Ninguém vem para rua porque quer- diz uma moça esperneando no isolamento da miséria arbitrada pelas armadilhas e equívocos da sociedade contemporânea.
O diálogo estéril com o vizinho do lado, tão abandonado quanto ela, condiciona a conversa a uma ilha repleta de náufragos.
A população abandonada das ruas de Maceió exige bem mais do que abrigos simbióticos da dependência humana, exige que os governantes tenham a compreensão de que cidadania se estabelece a partir de uma visão estruturante para que as mudanças sociais ocorram.
As mortes dos habitantes invisíveis das ruas de Maceió não geram impacto na maioria da sociedade alagoana pseudo-protegida em sua casa, com sua família e seus filhos.
As mortes dos sem-expectativas das ruas de Maceió geram a ilusão e satisfação no imaginário social da execração do mal.
A limpeza étnica da abolição inconclusa.
Aos pobres, miseráveis, quase todos de pele preta , drogados das ruas de Maceió o destino certo é o paraíso do descanso eterno.
Oficializou-se o extermínio consentido dessa gente. É a indigência da vida!
Morar nas ruas desestabiliza a dignidade da vida e nos torna porta vozes de silêncios que intercalam perguntas sem respostas.
É a afirmação cada vez mais abissal que povo só serve mesmo para carregar as bandeiras dos vencedores e depois sair de cena, até a próxima campanha.
Por meros “vinte conto’.
E que venha 2012!
Pobre povo!