O Comandante da Polícia Militar de Alagoas, Coronel Dário César, concedeu entrevista exclusiva ao Portal CadaMinuto. Na oportunidade, o comandante falou sobre o polêmico Código de Ética, convite para assumir a Secretaria da Defesa Social, corrupção, mudanças necessárias para otimização do serviço operacional e também da atual relação que mantém com o Senador Fernando Collor de Melo.

A entrevista faz parte do projeto do CadaMinuto em debater e conversar com as principais personalidades alagoanas e você pode sugerir ou opinar quem deve ser o próximo entrevistado, basta deixa um comentário na matéria.

CadaMinuto - Comparando a Polícia Militar de Alagoas com um organismo financeiro seria uma empresa a beira da falência?

Dário César – Se nós continuássemos a fazer policia como sempre foi feito, a instituição militar estaria falida por diversas vezes. Nós temos que estabelecer uma rotina de atualização, tanto no comando quanto na tropa, assim gerando resultados que possam se adequar a realidade social atual.

CM – Saindo do discurso burocrático, qual seria a principal mudança para aperfeiçoar o serviço operacional da polícia: fim das assessorias militares, realização de concursos públicos, etc...?

DC – A polícia hoje não é voltada para sua atividade fim. Ela não dá prevalência aqueles que estão nas ruas desempenhando o serviço preventivo. Comparando o efetivo de Alagoas com o de outros estados do Nordeste, temos um comparativo melhor na relação de polícia por habitantes. Traçando outro comparativo entre policial por metro quadrado temos também a melhor relação do Nordeste, ou seja, seria mais fácil encontrar nossos policiais militares nas ruas do que em outros estados do eixo Nordeste. Isso mostra que temos um problema sério na nossa estruturação e/ou estamos disperso.

CM – Muitos militares mostram-se insatisfeitos com o atual modelo de escala de serviço. De que maneira o comando geral vê essa situação?

DC – A escala de serviço em todo Brasil é 12/36, o que há dificuldade é que poucos iam para o serviço de rua em outros tempos, por isso a população pode observar agora mais policias nas ruas. Nós não multiplicamos pães, esse poder não temos, apenas colocamos as pessoas do serviço burocrático em determinado dia do mês trabalhando no serviço de rua.

CM – Muitos militares relatam que nem viaturas ou armamentos existem para desempenhar suas funções nos devidos municípios. Comandante, o senhor esqueceu os batalhões dos municípios alagoanos?

DC – Essa não é uma realidade de hoje, por menor que seja o município lá existe uma viatura da PM rodando, grande maioria nova, com policias armados com uma pistola ponto-40. Antigamente se tinha policias com revólveres que ao girar o tambor das balas, só tinha ferrugem e muitas vezes nem se quer disparava, apenas servia como enfeite.

CM – Quando o senhor fala em quebrar paradigma, faz referência ao grupo de nove coronéis que tentam por via da justiça voltar à corporação de Militar de Alagoas, já que eles representam a parte antiga da PM-AL?

DC – Acredito que a renovação é necessária em uma corporação de quase 180 anos. Nós precisamos acabar com as cabeças e/ou pensamentos que são retrógrados, que defendem que fazendo mais do mesmo nós teremos resultados diferentes, quando na verdade se constata que é o mesmo resultado em uma mesma situação, a história mostra isso. Temos que oportunizar pessoas que tragam pensamentos novos, não só no comando, mas sim em diversos campos de atuação da PM. Meu problema com esses coronéis é o fato que eles estavam há dez anos na PM sem produzir nada de novo para sociedade, e várias pessoas que desejam ser promovidas não podiam devido ao grupo dos nove. Juízo de valor apenas quem pode fazer é a justiça, por isso existe a presunção da inocência.

CM – A implantação do novo Código de Ética será um grande o marco do senhor como comandante na PM-AL?

DC – Nós não temos que deixar marca ou marco. Há dois anos estava no sub-comando da PM e trabalhei incessantemente com um grupo no projeto do Código de ética, daí sair e voltei agora como gestor geral, e vejo o projeto no conselho de segurança do estado. O novo código defende uma melhor atuação da corporação junto com outras medidas que são necessárias, tais como punição financeira dos policias militares que comentam algum crime. Esse modelo dará a PM uma oxigenada no modelo de conduta dos militares.

CM – Apenas 9% das sindicâncias resultam em alguma punição aos denunciados. Esse resultado mostra que há um grande espírito corporativista na apuração dos processos?

DC – Estamos implantando o novo modelo da corregedoria, onde vamos dinamizar todo processo de apuração e resultados. Toda corporação é corporativista. Quem é que julga os desembargadores, juízes? Na PM quem julga é sempre quem está acima, por exemplo, quem julga um tenente é um capitão, e assim se procede. Toda corporação é que deve realizar assepsia do seu corpo.

CM – De que maneira o comando pode combater a corrupção na PM?

DC – As denúncias existem, estamos apurando todas elas. Tão culpado o policial corrupto quanto às pessoas que dão vinte ou trintas reais para escapar do flagrante da lei ou de uma multa de trânsito. Ainda existe por parte da população certo receio em realizar denúncias, mas solicitamos que sejam feitas, e esse novo modelo da corregedoria possibilitará nas punições devidas.

CM – No próximo dia 1º de janeiro várias associações militares do Brasil preparam um movimento unificado de paralisação nacional, que tem como objetivo solicitar aprovação da PEC-300. De que maneira o Comando de Alagoas vê esse movimento?

DC – O Comandado da PM tem responsabilidade. A paralisação é transgressão militar se não for crime, então quem participar deverá responder de acordo com o regimento militar vigente.

CM – O senhor foi convidado para assumir a Secretaria de Defesa Social (SEDS)?

DC – A Secretaria precisa acima de tudo de um gestor, não importa se for civil, federal ou militar. Eu não fui convidado ou sentei com o governador pra conversar sobre SEDS, apenas sobre a PM, onde assumi o compromisso de até 31 dezembro gerir da melhor maneira possível. Acima disso, apenas cabe ao Téo (Teotônio Vilela Filho) dizer se continuou ou não, mas posso dizer que estou com o sentimento de dever cumprido.

CM – Qual é o balanço que o senhor faz a frente do comando da PM?

DC – Os números compravam que estamos no caminho certo. Desde que assumimos, os números de homicídios vem caindo consideravelmente em Alagoas, e os dados são do Instituto Médico Legal (IML).

CM – Qual é a relação do senhor hoje com o ex-presidente Fernando Collor de Melo? Hoje ele é seu inimigo?

DC – Graças a Deus não tenho inimigos. Na vida, tem pessoas que você conviveu na infância e depois se distanciam e cada um segue seu caminho, isso aconteceu com Collor, seguimos caminhos diferentes. Eu só sento a mesa se for estritamente necessário. Caso assim o fosse, não teria problema algum em sentar com Collor.