Socializando matéria jornalistíca publicada no jornal O Globo, do Rio de Janeiro, com a co-participação do jornalista Odilon Rios.
PRECONCEITO
Publicada em 20/11/2010 às 20h11m
RIO, SÃO PAULO e MACEIÓ - Moradora na Gamboa, Zona Portuária do Rio, a bancária Elisângela de Jesus Queiroz, 29 anos, enfrentou o preconceito religioso. Umbandista, foi hostilizada por uma colega de trabalho por andar de branco às sextas-feiras e escutar músicas religiosas. Sindicalista, ela ainda foi acusada de "jogar pó de macumba" na mesa da funcionária. Elisângela acabou afastada do trabalho.
- Fui colocada à disposição do sindicato e fiquei afastada cerca de três meses. Eles me chamaram de macumbeira safada. Mereço ser penalizada por ser umbandista? Tem pessoas que não toleram o diferente. O preconceito machuca muito, isola a gente. Faz pensar que estamos com doença contagiosa -, disse Elisângela, sentada sobre a Pedra do Sal, onde desembarcavam escravos africanos.
O caso de Elisângela é um dos 119 que chegaram à Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, assim como o do empresário Flávio Duncan, 26 anos, morador na Barra da Tijuca. Fiel do candomblé, ele foi agredido verbalmente por um pastor após acender uma vela em uma esquina. Flávio também recorreu à Justiça contra o preconceito.
- Intolerância religiosa é ignorância. Há religiões que crescem perseguindo e estigmatizando outras. Há casos inacreditáveis como a de uma ialorixá da Bahia jogada num formigueiro por policiais militares - diz o babalawo Ivanir dos Santos, de 55 anos, membro da comissão.
Em Maceió, 32 moradores de rua mortos desde maio
Para o promotor especializado em inclusão social Eduardo Valério, da Promotoria de Direitos Humanos de São Paulo, é preciso monitorar a ação de grupos que pregam a intolerância, mas sem dar atenção demais a eles, para que não ganhem expressão exagerada.
" Falta o tipo penal específico, e os casos de homofobia acabam entrando como crime comum, de lesões corporais "
- Teve uma ameaça de manifestação chamada "São Paulo para paulistas", que reuniu quatro pessoas e foi monitorada. Nós tendemos a dar uma importância que eles não têm. Se a gente começa a bater muito, começa a crescer.
Em São Paulo, o MP monitora casos de agressão a moradores de rua, alvos vulneráveis. Valério defende a aprovação de uma lei que torne a homofobia crime.
- Falta o tipo penal específico, e os casos de homofobia acabam entrando como crime comum, de lesões corporais. Com uma lei (que criminalize a homofobia) a pena para tende a ser maior, como nos crimes raciais.
Em Maceió, Alagoas, o perigo também ronda os moradores de rua. A cidade contabiliza, desde maio, 32 mortes a pedradas, pauladas e tiros. Para a coordenadora do projeto Raízes de África do Movimento Social Negro de Alagoas, Arísia Barros, a violência contra a população de rua remete ao preconceito racial - 90% das vítimas eram negras.