O homem vestia um calção azul, a camisa amarela estava displicentemente jogada sobre o ombro nu.
O homem grisalho com um boné azul, sentado em uma cadeira, alimentava-se do clima agradável no começo da manhã à beira da lagoa cercada de coqueirais.
De longe monitorava os grandes caniços para pesca esportiva, estrategicamente plantados na lagoa nos arredores da orla de Maceió, e de quando em vez acariciava a cabeça do cachorro poodle que dormitava embaixo da cadeira.
Brancos e sedosos eram os pêlos do cão.
Pescar era o hobbie preferido do satisfeito homem grisalho.
Segundo especialistas, caniços grandes para pesca esportiva medem mais que 9 pés e, é, opção ideal para arremessos longos e captura de peixes grandes.
São grandes os peixes que habitam as águas da lagoa.
O homem de pele branca repousava satisfeito apreciando a captura dos peixes que fisgados pelos caniços potentes abandonavam liberdade das águas mansas.
Não sem antes lutar bravamente.
Mais adiante bem próximo à lagoa, uma senhora da pele preta banhava um bebê que deveria ter entre cinco a oito meses. Do lado repousava um carrinho de bebê, das cores vermelho e azul.
O carrinho na verdade, mais parecia uma casa ambulante. No bolso inferior via-se panelas amassadas e outras quinquilharias.
No berço-carrinho onde a mulher de pele preta depositou a criança ,após banhada, repousavam algumas mudas de roupa, que há muito tempo já tiveram donos mais bem aquinhoados, assim como o homem com seu caniço potente de 09 pés.
Depois de ajeitar a criança que satisfeita balbuciava gracinhas para a mãe, a mulher tirou da casa ambulante uma pequena vara de pescar, acocorou-se à beira da lagoa, prendeu a saia entre as pernas e ficou à espera do peixe grande que cessaria a fome imensa que já atravessava dias.
Após pescar o peixe grande, a mulher preparou-o à luz do sol da manhã de Maceió, depois, lançou mão de um pequeno fogareiro e fritou a primeira refeição depois de vários ocos no estômago.
O homem dos caniços de 09 pés “atônico” com a cena na orla de Maceió, um dos centros onde impera o racismo urbano, arrumou seus pertences e saiu, resmungando indignado: porque será que existe pobre no mundo!
Por que será?
É o arbítrio da escravatura contemporânea!

Raízes da África