15 horas de uma quarta-feira, a capital é Maceió, a quinta capital mais rica de todo o Nordeste, em termos do PIB ou produto interno bruto, com um sol estourando a 34 graus centígrados. Um menino de pele preta dormia, todo encolhido, na calçada de piso alvíssimo de um hotel na orla.
De um lado os prédios belíssimos revestidos de turistas, do outro a vastidão do mar como referendo da liberdade e o menino de pele preta dormia livremente na calçada alvíssima, em uma capital que concentra grande parte da riqueza do estado.
O PIB (Produto Interno Bruto) é um dos principais indicadores da economia de um estado. Ele representa a soma das riquezas geradas pelo conjunto dos diversos setores da cadeia produtiva.
Segundo o presidente do Corecon-SP (Conselho Regional de Economia de São Paulo), Pedro Afonso Gomes, quando o PIB aponta expansão, isso tem influência positiva na vida das pessoa. Ainda explica: quanto maior o PIB, mais fácil de distribuir essa riqueza. A renda circula e todos são beneficiados. Então, quanto maior o PIB, maior a quantidade de empregos, o giro de mercadoria e a variedade de produtos.

Maceió é uma cidade muito rica,mas, seu povo é pobre de marre-marré-deci.
O menino de pele preta que dormia na calçada branca deveria ter entre 10 e 12 anos. Difícil precisar idade, pois a pele preta do menino estava encardida pela sujeira acumulada dos muitos dias varando a vida nas ruas.
Terá família o menino pequeno e tão dono de seu próprio destino?
Ao passar pelo menino de pele preta, que dormia às 15 horas de uma quarta-feira, sob o sol estourando a 34 graus centígrados, em uma calçada branca parei para observá-lo e a convulsão da impotência pessoal torna nua a angústia de não saber o que fazer com tantos meninos e meninas de pele preta, ou não, que “invisíveis” dormem ao relento das políticas públicas.
A indiferença com a infância pobre e preta personaliza a essência escravista do estado. O sono descampado do menino de pele preta,encardida pelo descaso das ruas, não comovia os passantes que alheios a cena cortavam caminho e seguiam adiante.
E me inquieta saber se não fosse preto o menino haveria mais ou alguns olhares de acolhimento?
Um dia ouvi uma senhora dizer a outra ao deparar-se com uma criança esfarrapada vestindo a pele branca e olhos claros: Oh! Tão linda na rua!
Porque crianças de pele preta não despertam essa comoção social?
Será que crianças de pele preta devem ter a rua como espaço de referência social?
O Brasil é um país racista?
Enquanto isso o menino de pele preta que acordou, de repente, buscou uma árvore para matar a vontade de fazer xixi e se foi. Deixou para trás o par de sandálias e a lata de refrigerante.
Logo depois que saiu o menino, o porteiro do prédio recolheu o par de sandálias e a lata de refrigerante e jogou-as fora limpando a calçada branca dos entulhos e da sujeira do menino de pele preta.
Isso aconteceu às 15 horas de uma quarta-feira, em Maceió, a quinta capital mais rica de todo o Nordeste, em termos do PIB ou produto interno bruto, com um sol estourando a 34 graus centígrados.
E o  fim!