O ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, denunciado por matar e ocultar o corpo de Eliza Samudio, ex-amante do goleiro Bruno Fernandes de Souza, se declarou inocente perante a juíza Marixa Rodrigues, do Tribunal do Júri de Contagem (MG), e, respondendo apenas aos questionamentos do seu advogado, aproveitou boa parte do depoimento para acusar o delegado Edson Moreira.
No seu primeiro depoimento sobre o caso, Bola se recusou a responder aos questionamentos da juíza, do promotor, dos assistentes de acusação e dos demais advogados.
Respondendo ao seu advogado Luiz Alberto de Oliveira, ele disse que fazia um curso superior à distância quando foi preso, há quatro meses, e que toda quinta-feira comparecia fisicamente à unidade da faculdade, a Uninter, na região da Pampulha, em Belo Horizonte.
Bola deu essa informação como uma espécie de álibi, já que, segundo a denúncia do Ministério Público, Eliza morreu em uma quinta-feira, dia 10 de junho. Seu advogado disse após a audiência, que teve duração de duas horas, que Bola cursava tecnologia em gestão pública.
Outro ponto que a defesa dele procurou focar foi a ligação que ele fizera para Luiz Henrique Romão, o Macarrão (amigo e secretário do goleiro Bruno), no dia da morte de Eliza, conforme prova contida no processo pela quebra do sigilo telefônico.
Embora tivesse dito no início do julgamento que só passou a conhecer os réus do caso na delegacia e no presídio, Bola disse que fez duas ligações para Macarrão porque ele tentava conseguir para ele um lugar em um time de futebol para o seu filho. O contato inicial com Macarrão fora feito por um policial amigo de Bola, segundo declarou o réu.
AMEAÇAS
A maior parte do depoimento de Bola foi usada para acusar de ter sido ameaçado de morte pelo delegado Edson Moreira, chefe do Departamento de Homicídios da Polícia Civil de Minas que presidiu o inquérito sobre o desaparecimento e suposta morte de Eliza Samudio. Ele também repetiu a acusação feita por Bruno e outro advogado dele de tentativa de extorsão. Bola disse ser 'inimigo' do delegado.
Ex-policial militar excluído da polícia de Minas em 1983, segundo ele por causa da 'boçalidade' do regimento interno, e depois excluído da Polícia Militar de São Paulo por ter omitido a exclusão em Minas, Bola disse que em 1990 ingressou na Polícia Civil de Minas e foi aluno na academia de polícia de Edson Moreira, que já era delegado na ocasião.
Ele disse que os problemas com o delegado têm como motivo o fato de ele ter desmentido Moreira perante os colegas da academia de polícia por dizer que o delegado nunca pertenceu à Rota de São Paulo (unidade da PM paulista), mas à cavalaria.
Bola chorou cinco vezes durante seu depoimento e disse que sempre que foi prestar depoimento no Departamento de Investigações no caso da morte de Eliza foi ameaçado por Moreira, ora que iria para o pau-de-arara, ora que seria morto no presídio e que sua família também estava sendo ameaçada, caso vazasse para a imprensa a tentativa de extorsão de R$ 2 milhões.
Bruno disse ontem no seu depoimento que recebeu a proposta de Moreira via Bola. A proposta visava liberar Bruno e Bola das denúncias. Bola, contudo, alegou que o delegado também fizera a proposta diretamente para o goleiro, conforme ele lhe disse na prisão.
O ex-policial disse que Moreira é o 'anjo mau' da polícia, porque sempre chega de forma agressiva. Ele disse que Moreira, em um dos interrogatórios na delegacia, ameaçou uma filha dele que mora em São Paulo, ao dizer que Bola não gostaria de ver sua filha 'estraçalhada' como ele fizera com Eliza Samudio.
OUTRO LADO
O delegado Edson Moreira, bem como outros delegados que foram acusados pelos advogados dos réus e pelos denunciados, nesta semana de audiências do caso, decidiu não se pronunciar sobre o que considera ser estratégia das defesas.
O promotor do caso, Gustavo Fantini, tem encaminhado todas as acusações para a Corregedoria de polícia.