Há menos de três meses no comando-geral da Polícia Militar de Alagoas (PM/AL) o coronel Dário César começou uma reestruturação na corporação, o que segundo ele, seria uma das primeiras medidas para melhorar o atendimento à população, inclusive no interior do Estado. Após a reeleição do governador Teotônio Vilela e a possível saída do secretário de Defesa Social, Paulo Rubim, começaram a surgir especulações acerca do nome do coronel para assumir a pasta.

O comandante da PM afirmou que o trabalho desenvolvido por ele visa aumentar a presença de policiais nas ruas e destacou a necessidade de uma reengenharia na instituição, que precisaria evoluir e quebrar paradigmas, o que está diretamente ligado a mudanças na legislação. Para ele, a PM deve atuar como uma empresa privada, mas prestando segurança de forma coletiva e não individualizada, cumprindo o que determina a Constituição Federal.

“O cidadão quer uma polícia ostensiva, porque ao ver um policial fardado na rua, tem certeza que o Estado está presente, garantindo segurança. A instituição é quase bicentenária e na época da ditadura deixou de proteger, para agir contra a democracia, atendendo o governo da época. Houve um processo para reestabelecer a ordem, mas ainda temos uma estrutura paquidérmica, grande, pesada e lenta e é isso que precisa ser revisto”, afirmou.

Para reforçar a necessidade de um novo mapeamento, Dário César citou o 5° batalhão, no Benedito Bentes, que atendia bairros circunvizinhos, como Eustáquio Gomes e Gama Lins, mas que devido ao desenvolvimento local não conseguiu dar conta da demanda. Ele afirmou que Arapiraca não poderia ter um batalhão que atendesse também a 15 outros municípios e ainda, Coruripe, que deverá ter sua população aumentada com a instalação do estaleiro.

“No Benedito Bentes há um shopping, um pólo industrial nas proximidades, além de várias comunidades que surgiram ao longo do tempo e não tinha como os policiais se deslocarem do batalhão para atender ocorrências próximas ao aeroporto, por exemplo, mas modificamos isso. Arapiraca merece atenção especial, pela velocidade de seu desenvolvimento e o batalhão não poderia atender ocorrências tão longe de sua sede, como Teotônio Vilela. O estaleiro vai gerar 10 mil empregos, além da Vale em Craíbas, que terá um investimento de 1 bilhão e esses locais que merecem maior presença policial”, destacou.

Ele lembrou ainda, a situação enfrentada por outros municípios em relação à segurança, como Maragogi, onde o posto da PM era subordinado a Maceió, o que dificultava a atuação dos policiais em caso de ocorrências. “Se um militar passasse mal ou alguém quisesse reclamar do atendimento feito por, ele tinha que se reportar à capital, o que também acontecia em Penedo. No Sertão também acontece isso, como em Olho d´água das flores, mas agora o batalhão é subordinado ao mais próximo, que fica em Santana do Ipanema”, destacou.

Desvio de função

Segundo o coronel, a tropa não pode continuar com seu contingente desviado da função, atuando na segurança patrimonial e ainda, em estacionamentos e gabinetes. Para isso, Dário César lembrou do projeto do governo que visava extinguir as assessorias militares, encaminhado para a Assembleia Legislativa, que votou contra. Ele pontou que seria necessária uma mudança de mentalidade em todos os Poderes, para que os policiais militares possam agir de acordo com o que é esperado. O coronel lembrou que 500 militares atuam em assessorias, o que equivale a mais de 5% do efetivo.

“Os policiais não podem ficar tomando conta de prédios, porque se isso fosse correto, a PF ficaria em frente a fóruns federais. Quem tem que fazer essa vigilância são pessoas terceirizadas, mas essa situação é muito comum no interior. Fechamos uma padaria, que funcionava há 18 anos, onde 11 militares, entre sargentos e sub-tenentes faziam 1300 pães por mês, somando, o salário dava quase 30 mil. Como eles poderiam atender o cidadão? A sociedade não pode pagar isso. Quando estava na intendência penitenciária quatro homens faziam 13 mil pães e a remuneração era de R$ 2.500. Assim percebemos a diferença. As autoridades querem polícia do lado, como se só assim tivessem segurança, que deve ser pensada para atender também a sociedade", afirmou.

Aumento do efetivo

O comandante informou que números apontam que Alagoas está em situação confortável em relação a policiais por número de habitantes, se comparado a outros Estados a região Nordeste, como Bahia, Ceará e Pernambuco. Dário César revelou que o efetivo é de 8.100 policiais, entre os 600 que estão em formação, lembrando que os índices de violência devem ser comparados usando como base as características locais e não as do sul, por exemplo.

"Somos um estado pobre, com demandas diferentes daquelas do sul do país. É mais fácil encontrar um policial na rua aqui, do que nesses estados. Se dividirmos esses 8100 policiais, por km2 ainda ficaremos numa posição favorável, em termos de efetivo,inclsuive em relação a Sergipe. Os policiais dizem que trabalham demais e outros que o efetivo é pequeno, mas não é justo que aquele que desce grota, sob sol e chuva ganhe o mesmo que o militar que fica em um estacionamento, com uma chave na mão", destacou.

Para ele, a PM náo pode se agigantar, se o Estado não tem recursos e a questão de melhores salários poderia ser resolvida com a aprovação da PEC 300, mas demandaria o pagamento de mais impostos, para manter os salários. "Sem recursos, teríamos que diminuir o investimento em fardamento, viaturas, armas e o dinheiro só seria para pagar salários. Em Alagoas a categoria dizia que se tivesse amento, trabalharia melhor, mas a questão é que teve reajuste de quase 80%, mas isso não pode ser usado como justificativa. O ideal seria estabeceler metas, para reduzir a criminalidade e oferecer gratificações por serviços operacionais, como existia antes", pontuou.

Segundo o coronel, é necessária a realização de concurso público para renovação da tropa, que tem em seus quadros 68% de policiais acima dos 40 anos. Mas, ele ressalta que deve haver uma idade limite para ingressar na PM, já que é necessário fazer um trabalho cansativo. Ele informou que nos seis primeiros meses deste ano, 3863 policiais da grande Maceió pediram dispensa médica.

"No último concurso não havia uma idade máxima para entrar na PM, tanto é que há entre os militares que estão em formação, pessoas com mais de 40 anos. Quanto mais jovem o policial, melhor ele começa, desde que tenha escolaridade, saúde mental e condicionamento físico, porque ele vai usar coturno, colete, arma para coibir a violência e isso exige muito esforço", lembrou.